sábado, 26 de setembro de 2009

Perpétua

E ela se depara mais uma vez com o momento qual prometeu nunca mais se permitir estar. Pronta pra vê-lo chegar explodindo frieza e esfomeado por algumas horas de trocas desleais: ela com a alma pronta para ser entregue, ele, com o corpo e só. Ela não mais se martiriza nem se acusa por estar ali novamente. Tem pena de si mesma, como se cada vez mais confirmasse uma submissão extraordinária, uma ligação eterna e desigual pelo resto da vida (chega a acreditar pela morte também). Sabe que as marcas deixadas por ele não vão sair, porque ela não quer, porque ela não se vê sem essas. E quantos outros homens tentaram chegar perto da herança que ele deixou e ela largou de mão, e ela desprezou como se esses fossem quase assassinos da alma que é dele, exclusivamente dele.
Sim, é uma prisão. Ela está encarcerada dentro dela, privou-se do mundo pra estar sempre ali: pronta para vê-lo chegar explodindo frieza e esfomeado por algumas horas de trocas desleais. E sabe: não adianta prometer para si mesma, o que não quer. Assume que é forte demais, por querer ainda viver com o fardo que é esperar quem ela sabe que nunca mais volta, quem ela sabe que nunca veio inteiro. Mas ela gosta. Gosta porque o pouco que provou foi o suficiente pra dizer que quer pela vida inteira, foi suficiente para ela saber que tem alguém que a transforma, mesmo que por poucos segundos, no que ela sempre quis ser.
Outros homens continuam ao seu redor, sem saber por que ela se priva dos prazeres que têm para dar. Ela, às vezes, tenta forçar um desejo que soa falso, soa frio, e logo abandona. Não tem jeito, se é homem, tem que ser ele. Se é pra usar o sexo, que seja o sexo do ser que ela escolheu pra marcá-la pela vida. Não vê sentido em outra saída, não quer buscar outra saída. Quer ele e só, quer ele e pronto, por isso está sempre vazia.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Completo

Preencho-me de tudo, entrego-me também,
Só que uma coisa eu tento esconder:
o vazio que há no que sou.