domingo, 6 de dezembro de 2009

Incompleto

[Para um menino que me pediu um texto sobre desapropriação]

Ele tinha passos que gritavam estrada, quais me atraíram e não me impediram de segui-los e desejá-los. Eu decifrava cada parte dele como se fosse minha. Os pêlos exagerados, o sorriso de lado, os ombros largos, o pescoço moreno, os lábios de poeta, os olhos negros que refletiam a mim, os olhos que diziam o que eu era, os únicos espelhos do meu ser. As mãos dele percorriam o meu corpo, minha face, meus sonhos e eu já não sabia mais onde começava e tinha fim. Era como se eu fosse um filho dele, uma parte descolada que queria voltar de onde veio e ficar lá pra sempre, só pra sentir o gosto de ter em mãos tudo o que ele era, só pra saber o sabor de ser alguém por completo. Mas, ele era sempre meio. Meio gozo, meio beijo, meio sorriso... Meio! Enquanto eu dava dois passos, ele não completava o primeiro. Descompassávamos... Eu me vendo ali, diante de mim mesma, só que cada vez mais sem brilho, cada vez menos entregue, porque estava presa nos olhos que não olhavam só pra mim, estava encarcerada no olhar que queria devorar o mundo e não só o meu corpo. Minha imagem foi se apagando aos poucos. Cada parte que sumia eram cem punhaladas cravadas bem devagar em mim. Dói ser apagada dos olhos de quem você quer invadir, de quem você quer estar pro resto da vida. Dói não saber mais de si, como é sua imagem, como é vista no mundo e, sobretudo, dói só sentir essa dor num corpo que é seu, e que, mesmo assim, é desconhecido. Enquanto o outro encontra mais imagens pela estrada, eu continuo parada sem saber quem devo ser. O que fazer quando você mesma some do mundo, quando os olhos que são seu único abrigo não querem mais te ver?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ECO

Querido, tenho descoberto tantas coisas... Olho pra mim e sei que vou além da imagem projetada no espelho. Esse corpo único, na verdade, é plural. Cada movimento, querido, cada mínima construção do meu organismo: os estímulos, os sentidos, as verdades de quem sou são infinitas... Não cabem no mundo!

domingo, 22 de novembro de 2009

Pretensão

A minha pretensão não é apenas saborear-me com o amargo que vem da tua saliva.
É supérfluo, pra mim, este gosto,
Quando o desgosto está estampado em teus olhos.
Eu quero decifrar as marcas mudas da tua face,
Quero que o encaixe dos nossos corpos,
Sejam ministrados pelas nossas almas.
De nada me vale essa carne que a tudo quer e deseja,
Se o que minha paixão almeja é o que tens de ser extra-humano.
Há engano em teu olhar.
Tens pele áspera, mãos desordenadas, palavras frias.
O que te faz chamar atenção é o que possuis de triste e vazio.
Teu corpo sombrio
(Abrigo dos amantes breves)
Vagueia pelas ruas sem brilho,
Perdido na realidade falida dos corpos desalmados,
Entregues ao nada.
Quero que saiba: o prazer não vem da carne,
E o sentido da vida não está nos gemidos da noite.
Tenho pra lhe oferecer,
(Além do sabor adocicado da minha boca,
E da maciez dos meus pêlos e frases)
A vontade de completar o teu ser,
Sabendo quem és de fato.
Quero jogar no lixo tua máscara
E essa carcaça de quem não soube viver todos esses anos.
E, enfim, provar-te
Que o engano é conseqüência de quem optou pelo que é fácil.
Tu és frágil
E eu quero ser quem te protege, para sempre.

domingo, 15 de novembro de 2009

.

Falas banais,
Bocas que vomitam hipocrisia.
Mentes acompanhadas pela ignorância de si mesmas...
Odiosas!
Esqueceram [ou não querem ver] que as boas prosas ainda existem.
Os poetas continuam tristes vagando pelas ruas sem saber que permanecerão na história!
Bocas, estejam mudas!
Artistas de fato não dizem que sabem,
Mas são gênios.
Vós achais que dominais a razão,
Contudo, se apagarão no milênio.
Falas malditas,
Os falecidos artistas estão remexendo em suas covas,
Inventando prosas mais dramáticas que as antigas!
Saibam: a arte não vai morrer enquanto não depender de vós.
Eu, a sós comigo e com o palco
Rezo para que o espírito artístico continue a brilhar,
Mesmo tendo que sustentar
Tanta hipocrisia, tanto ego alto!

31/08/2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Para o Outro Que Sou

Querido, tenho tantas coisas pra contar. Tenho aprendido tanto com a vida que escolhi, e o melhor: não me arrependo. Estou feliz, sinto-me no meu lugar, sinto que posso ir mais longe, estou bem melhor comparado a quando te vi pela primeira vez. Se você soubesse como estou conhecendo um pouco sobre quem sou, descobrindo em mim caminhos que eu nunca pensei existirem, possibilidades impossíveis na nossa época. Não, querido, não sou outra. Continuo sendo a mesma devota do teu ser, admiradora da lembrança dos teus olhos e lábios, das palavras que saiam da tua boca que ainda estão vivas no meu ouvido. E pensar que foi você quem abriu o caminho para essa minha grande descoberta, você quem teve a coragem de corrigir meus olhos cegos de mimos e privados da verdadeira realidade do mundo... Todo dia quando eu me deparo gritando por justiça, lutando por causas infinitas, eu lembro do teu ser. De como você me mostrou que, abrindo realmente os olhos, a gente percebe uma infinidade de erros, de corrupções, de desigualdades que não devem ser (apesar de serem, por muitos) tidas como “normais” e que é preciso lutar por elas. Eu estou descobrindo aos poucos o mundo e por conseqüência, como já disse, a mim também. E, apesar de saber que o universo no qual vivemos não é o paraíso, digo que estou feliz, feliz porque agora tenho olhos grandes, críticos, questionadores, revolucionários. Eu sou embrião de ti, gênio, a semente dos teus ideais, da tua historia, da tua luta. Quando eu berro, ouço tua voz e não a minha clamar. Quando gesticulo sinto teus braços nos meus, quando choro, parece que engulo o gosto da tua lágrima. Sim, nessas lutas que enfrentei, encontrei companheiros magníficos, tão inteligentes quanto você, inclusive tive me relacionando com eles, libertários que são, levam a vida de um ponto de vista imensurável (mas, confesso, nenhum libertário ou libertária tem o teu sabor). Sim, experimentei coisas novas, pessoas novas, abri meu leque, querido, precisa ver. Só que a verdade, verdade mesmo, é que fiz isso tudo por você, para você. Esperando o momento em que eu iria rever a nossa imagem refletida no mar, ou na vidraça quebrada do armazém da favela,no espelho do camarim no teatro, no vidro do carro do policial preconceituoso, ou então no ultimo banco do ônibus (lembro como se fosse agora, meu rosto exalando um prazer indiscreto e tuas mãos elevando-o ainda mais)... Quero te mostrar tudo que tenho construído, tudo o que transformei tendo você como a base, como a raiz, a superfície, o ponto de partida, a lente do mundo. Digo, querido, que agora estou pronta pra te dar as mãos e lutar contigo pelo universo e, acima de tudo, por nós mesmos. Nos últimos dias, a cada minuto, tenho pensado em como podemos nos juntar, o que podemos transformar, como vamos ser grandiosos nos unindo novamente, estando um preparado para o outro. Eu sinto, querido, (e quando eu sinto, você sabe, não é em vão), alias, sempre senti, só que agora com mais força, que somos eternos um no outro. Que estamos aqui, na Terra, pelo outro, e que precisamos, devemos cada vez mais amarrar nossos laços para que possamos transformar em algo menos intolerável o mundo, e também para que sejamos um só, mas um corpo que seja luta, alma, paixão e sede maior do que já ouvimos falar em toda história. Aguardo-te impacientemente, querido, de portas, mente e ideologias livres para seu trânsito. Volte logo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Cria Dor [Secreto III]

E lá vem mais uma pancada.
A menina está acostumada, pode mandar mais!
Não há paz nos olhos dela desde que se reconhece.
Esquece que existe um mundo lá fora,
Porque o dela já é grande demais, apesar de devastado.
Tenta sempre, sempre, reerguer seus campos, castelos, limpar os rios...
E quando chega à quase perfeição,
Lá vem mais uma vez a pancada feito tufão destruir tudo.
Estudo seu comportamento, pois suspeito haver um elemento fundamental
Que faça a moça, coitada, ainda acreditar que levará o seu mundo à uma configuração superior.
Crê tanto, mas tanto, que eu fico admirado...
Já viu o final inúmeras vezes e continua ali: tentando mais.
Por que menina, acreditar no que não pode vir?
Como é possível a moça não abrir o olhar e constatar que a vida já está esquematizada,
Que ela nasceu pra ser nada, só aceitar o que lhe foi imposto?
É mais desgosto que alimenta se tenta reerguer o que não é feito pra estar em pé!
É triste e ao mesmo tempo encantador
Ver uma menina moça com esse ar de esperança,
Parecendo criança brincando de criar...
E a menina cria, cria cada vez mais dor.

sábado, 31 de outubro de 2009

Secreto II

Ela vai morrer de taquicardia. Faz tempo que repara nos indícios. Sente o pulso pelas veias correndo intensamente, aclamando por amor. Nesses momentos, pensa de maneira urgente em tomar, talvez, a última atitude em vida. Acha romântico morrer do órgão involuntário, não só pelo significado que tem, mas pela força. Diz até que não come coração de galinha, porque acha anti-poético. Patético o estado em que se encontra.
Ela vê o corpo imã de seu corpo, entrega tudo o que tem a ele e aí está a taquicardia intensa. Essa companheira a acompanha quando está mais propensa à paixão [sempre, diga-se de passagem,]. Até a miragem do ser que a chama atenção provoca a palpitação, a pupila dilata, os poros abrem, o sexo faz contração em milésimos de segundo, a conturbação de barulhos do mundo se cala para ouvir o bombeamento sanguíneo imediato, para sentir ou desejar o caminho que corre pelo corpo e provoca ainda mais reações, mais intenções, mais desejos, apelos, gritos, mais a certeza de que a morte está próxima. Diz que é bom saber de qual forma vai deixar o mundo. Julga a morte como resultado da vida e pra ela não haveria outra saída senão falecer do que a move a cada instante de cada dia que experimenta o gosto intenso das paixões que alimenta, sobretudo quando não correspondida.

domingo, 25 de outubro de 2009

Secreto I

Anda mudada. Olhos sem brilho de esperança, de lembrança, de paixão. Diz não ao que pede o coração e se põe a rodar como peça de máquina sem alma, sem calma, sem par. Conhece tantos, mas nenhum acompanha. Está só, como todos. Não faz mais campanha pra ver qualquer homem se entregar. Descobriu que amar é mais uma construção, talvez assim como Deus, talvez como a imagem que transfere pro mundo. Sente o pulmão cada vez mais imundo não só de fumaça, mas da desgraça que absorve todos os dias. Olha pros cantos e não vê verdade em mais nada. Repito: está mudada. Abriu os olhos, sujou a alma, tapou a vontade de se entregar pra tudo. Estranho ter tanto pra dar e só poder dividir com ela mesma. Farejar as impurezas e se calar. Constatar que ninguém quer se declarar por inteiro, porque tem medo, porque tem jogo pra ganhar. Impaciente, quer gritar, mas não se deixa. Está sem voz. Está a sós com o mundo... Estranho como tudo mudou de repente e como a realidade não tem nenhuma ligação com os sonhos que, antes de se abrir, ela, iludida, tinha em mente. Como máquina ela gira, gira, gira e se entontece... É, menina, encontraste o sentido da vida!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

(...)

Vai ser sempre assim. Tenho mais certeza disso que da morte. Há pessoas que nascem para viver de um “amor” e outras para sofrer deles. Gosto do que escrevo e se escrevo é porque me angustio, é porque não consigo tapar o mínimo do tal vazio que existe em mim, porque tenho dor à flor da pele.
Sabe que eu sempre olhei pro mundo e nunca achei que as coisas tivessem nexo... As mãos dadas são sempre opostas, ou estão umas entre as outras, nunca na mesma direção, nunca seguem a mesma métrica. Os seres humanos são assim. Uma vez me perguntaram se eu estava acompanhada e foi então que me vi frente à frente com uma verdade absoluta qual me alimentou desde que nasci (ou desde antes, quem sabe): um indivíduo nunca acompanha o outro (talvez nem a si próprio). Eu quero um ser que me responda com toda a convicção que se sente completamente do outro, que se entrega por inteiro, que compartilha não só o corpo, não só a tal da alma, mas os pensamentos, as angustias, os medos, o orgulho e que, sobretudo, nunca foi falso pra estruturar a relação... Veja bem... O que quero dizer sobre o companheirismo é somente que esse é um dado incompleto. Estar acompanhado não quer dizer que você deixou de estar sozinho. Ando percebendo, talvez tarde ou cedo demais, que as pessoas se movem por interesses pessoais além até da hipocrisia material, mas, sobretudo, da física. O homem sente a necessidade de estar ao lado de outro ser, não importa por quanto tempo, não importa quantos seres por vez, o fato é que precisa estar “acompanhado”. Parece que os passos têm ritmo de organismo esfomeado que grita, grita como que num apelo por algo, alguém, alguma coisa que possa suprir o vazio da falta.
Às vezes eu me questiono e questiono a essa força que chamam de Deus (estou numa fase tão desgostosa que nem Deus anda suprindo um quinto do vazio que há em mim!) qual seria o motivo de eu vir ao mundo. Por que pra acompanhar alguém eu sei que eu não vim. De vez em quando me pego dando uma de super-humana, objetivando estar acompanhada, mas logo caio em mim e vejo que não adianta, nenhum ser vai suprir a lacuna que me pertence. O problema é que eu sei que eu nasci para a segunda opção: a de sofrer pelos “amores”, para talvez reproduzi-los, quem sabe, à quem conseguiu acreditar nesse tal sentimento (?)...
Talvez você não entenda... Eu sei, eu mesma não entendo, e por não entender estou aqui. Talvez “você” nem exista, porque nos dia de hoje não é impossível dizer que seja impossível ver alguém parando o seu pequeno dia de 24 horas, cheio de afazeres, para ler um desabafo de uma ainda adolescente que conhece pouco da vida e já questiona sobre a própria. Realmente, talvez todas as minhas questões possam ser respondidas um dia, quem sabe? Mas, não sei... Eu sinto... Sinto mesmo... E parece que alguém faz questão de me lembrar, que eu não nasci pra seguir o exemplo social do falso companheirismo. É como se eu... Não sei... Como se eu em breves, brevíssimos mesmo, momentos da minha vida acreditasse em um romance, e me jogasse mesmo, de fato, como ninguém se joga, como quem quer experimentar o gosto do gozo a cada segundo com medo de morrer, mas logo depois caísse por terra, e novamente me postasse aqui: em frente à uma máquina, tentando reproduzir algo que grite por mim, que chame atenção dos outros seres por mim. Por que eu, por eu mesma, não sou nada. São poucos os que me percebem, sabe? Não só pela minha má qualidade genética, mas por ser realmente uma pessoa que não tem o intuito de ser observada por ninguém, parece que meu instinto é só de observar (talvez seja esse um dos motivos para eu achar o ser humano algo pior do que berinjela podre!).
Mas, à parte esse meu desabafo de quem se sente a escória do mundo, aliás, à parte essas últimas linhas (porque o desabafo todo parece ser de quem se sente a escória do mundo, mas as últimas orações são mais impactantes, eu acho, enfim...) o que eu quero dizer de fato é que estou naquele momento qual não vejo razão em nada. Por que as pessoas conseguem levar à frente um laço que elas sabem que é frouxo? Por que e como elas objetivam reproduzir outras vidas, e fazer com que essas novas produzam outros laços sabendo que tudo isso pode ser desamarrado por qualquer esbarrão, qualquer “não” à ilusão de ter alguém ao lado? Eu não consigo, de maneira nenhuma, levar à frente qualquer relação. Se é pra ser laço, tem que ter nó! Tem um jogo sujo por trás das ligações humanas que eu abomino (juro que me deu ânsia de vomito lembrando!), um joguinho medíocre... E depois vêm os seres dotados de “razão” dizerem que são superiores aos animais “irracionais”... Quanta racionalidade, meu Deus, existe no ser humano que usa tantos truques baixos, falsos pra conquistar o outro! Desculpa, não consigo... Não consigo mesmo digerir a idéia de que tenho que fazer jogo pra poder conseguir manter algum relacionamento... E não digo somente relacionamento entre “amantes”, mas entre “amigos” também. Tudo bem, não vou entrar nesse mérito senão vai render mais...
A verdade é que eu olho pras pessoas que andam lá fora e só vejo corpos presos à uma realidade sem nexo! Não me encaixo. Eu jogo fora a idéia do jogo e me entrego mesmo, me entrego à tudo (e gozo horrores, inclusive... enquanto tem gente ainda fazendo jogo). É tão sincero, é tão vivo... Não me arrependo de nada que fiz até aqui, não me arrependo dos meus momentos de falso companheirismo (por parte do outro, porque vindo de mim, foi tudo verdade) quais mandei ver gritando que amava, que estava apaixonada, ameaçando me jogar do nono andar, nossa! Quem lê isso pensa que eu tenho oito anos. Talvez eu tenha parado no tempo mesmo. E tenha ficado com a sinceridade da criança... Que quer verdade em tudo que vê também. O problema mesmo é que a gente nasce em um meio já estabelecido: você veio ao mundo pra encontrar alguém que você vai “amar” e que vai te “acompanhar” aonde você for. Quanta besteira! Repito: quanto jogo sujo, Deus! Por isso eu sempre perco, não gosto de táticas, de truques... Por isso eu toda hora caio no mesmo ponto: as pessoas nunca se acompanham, elas se empatam, é bem diferente (isso quando não tem derrota por trás dos panos)!
Ta ok... Eu sei que estou alongando demais isso, mas é que sinto que eu escrevi, escrevi e não disse nada, nem pra mim, quem dirá à você! Tudo bem... Você não existe... Acho que eu realmente espero que você não exista, que você só pare pra ler meus poemas curtos que estou nos momentos de me entregar sem jogos... Esses poemas, aliás, quais você sempre diz que são intensos, não são nada mais do que o que você quis viver e não pôde, porque entrou no esquema imposto pelo meio e você não teve coragem de ir contra ele. Teve medo. Engraçado! Lembrei de uma frase de um texto que eu encenei com a primeira pessoa qual eu me entreguei de fato e que eu sinto gosto de falar que foi paixão que cresceu a cada milésimo dos dias que durou: “o que tu tem é medo”. Pior que não só o personagem dele, mas ele também tinha. Por isso não nos alongamos mais além alguns meses (que pareceram milênios). Enfim, o que eu quero dizer... Eu, na verdade, não quero dizer nada, só queria escrever, não vou nem reler esse texto senão, ao final, vou ter medo da minha reação. O fato é que eu vou continuar com esses pensamentos por muito tempo... E que a única certeza que eu tenho da vida, repito, é que há sempre o ser humano fraco que nasceu pra viver de um falso amor e há sempre o outro que enfrenta a hipocrisia desses jogos amorosos, mas que acaba por se doer inteiro, pela angustia de ver que o individuo não é nada mais do que algo descartável, não é nada mais do que algo construído sobre o nada!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Eu Te Amo, Amor [de Vinícius de Moraes]

[Poema pego aleatoriamente numa caixa de dizeres amoros na UniRio]

Ah, pudesse o tempo resumir o sofrimento
De uma vida inteira num lamento só de dor
Se dizer pudesse o desespero de partir
E que amar é triste
Que a beleza morre em flor
Dele ao infinito desceria num clamor
Esse eterno grito: Adeus, Adeus, adeus, amor
Eu sei que as minhas lágrimas de amor
São como a estrela que reluz
Pela manhã no céu
Estrelas da manhã no céu
Chorando a própria luz
Oh, insensato amor que me roubaste toda a paz
Se ao menos eu pudesse deslembrar de tanta dor
Mas como esquecer teus versos tristes e fatais
Se eles são o canto do teu sempre trovador
Ah, que eu nada sou mais do que um pobre sonhador
Que jamais te esquece

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Verso Inverso

As frases que proferi até aqui
São enganosas, menino,
Não acredite.
Vejo que enxerga em mim
O que lê nos meus poemas
E fica num dilema sem fim.
Não espere alguém que saiba fazer tudo o que eu digo,
Nem que diga palavras bonitas de quem quer abrigo.
Sou fria, as linhas que escrevo fervem.
Calma, e minhas frases devastadoras.
Sou impostora do meu nome.
Se quer a escritora,
Ame meus versos,
Se quer a mim,
Descubra-me e perceba que sou o inverso.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Pela Última Vez, Rapaz

Rapaz,
Chega novamente com teu jeito que não esqueço mais!
Não faz assim, rapaz.
Minha alma é de quem guarda cada segundo,
Desse amor imundo qual me afasta da paz.
Rapaz, mais uma vez me pego sonhando receber de ti um abrigo
Que nunca tive, que nunca precisei ter, que é só capricho.
Você não pode permanecer em mim, rapaz
No entanto fica, abre mais ferida,
E me faz exalar teu cheiro, teu gozo, teu corpo
Que parece de bicho, que grita cada vez mais.
Rapaz, nessa tua nova volta,
A revolta me toma
E antes que eu novamente entre em coma,
Depois de irmos pra cama,
Quero que saiba:
Essa é a última vez que vou te deixar penetrar em tudo que criei só pra mim,
Repito: é a última vez, rapaz.
E nessa você pode apostar...
Finalmente decretei nosso fim.

sábado, 10 de outubro de 2009

Jogo

Não liga, moço.
Vai passar.
Todo esse desgosto vai embora,
Pra dar lugar ao pior.
Não adianta!
Cada passo dado é um nó
Que te afasta do que é bem.
Eu?
Perdi meus ideais por essa estrada.
Não tenho nada, nem ninguém pra lamentar.
Se luto, é pra encontrar o fim.
O fim desse vazio que me tomou,
Do todo/nada que se infiltrou em meu ser.
Não adianta, moço.
Você também vai perceber:
A batalha contra o cotidiano é injusta.
Quando acordar,
Estará preso na realidade individualista de todos os seres.
A vida se tornou isso:
Você entra no jogo,
Ou entra no jogo.
Não há espaço para o “vir a ser”.
É estereótipo, é máquina, é classe, é divisão, é pouco poder.
Não se iluda, moço.
O jogo já foi moldado,
E você também veio pra perder.

[25/06/2009]

Momento

Primeiro é o olhar profundo e revelador
Depois o sorriso quente e sedutor.
Logo, vêm os pelos que deslizam como tapete.
Depois a boca, como se estivesse num banquete.

As mãos, que de inicio estão frias,
Ao fim se encontram aquecidas.
Os olhos continuam os mesmos,
Só que com mais fogo, mais desejo.

O abraço envolve, abriga.
O corpo sente e sorri.
O momento é único, indescritível.
A sensação é mutua e sempre insubstituível.

A paixão recebe mais calor.
O amor surge sem medo da dor
A certeza do infinito é vaga,
Mas vontade de amar é rara.

[2007]

sábado, 26 de setembro de 2009

Perpétua

E ela se depara mais uma vez com o momento qual prometeu nunca mais se permitir estar. Pronta pra vê-lo chegar explodindo frieza e esfomeado por algumas horas de trocas desleais: ela com a alma pronta para ser entregue, ele, com o corpo e só. Ela não mais se martiriza nem se acusa por estar ali novamente. Tem pena de si mesma, como se cada vez mais confirmasse uma submissão extraordinária, uma ligação eterna e desigual pelo resto da vida (chega a acreditar pela morte também). Sabe que as marcas deixadas por ele não vão sair, porque ela não quer, porque ela não se vê sem essas. E quantos outros homens tentaram chegar perto da herança que ele deixou e ela largou de mão, e ela desprezou como se esses fossem quase assassinos da alma que é dele, exclusivamente dele.
Sim, é uma prisão. Ela está encarcerada dentro dela, privou-se do mundo pra estar sempre ali: pronta para vê-lo chegar explodindo frieza e esfomeado por algumas horas de trocas desleais. E sabe: não adianta prometer para si mesma, o que não quer. Assume que é forte demais, por querer ainda viver com o fardo que é esperar quem ela sabe que nunca mais volta, quem ela sabe que nunca veio inteiro. Mas ela gosta. Gosta porque o pouco que provou foi o suficiente pra dizer que quer pela vida inteira, foi suficiente para ela saber que tem alguém que a transforma, mesmo que por poucos segundos, no que ela sempre quis ser.
Outros homens continuam ao seu redor, sem saber por que ela se priva dos prazeres que têm para dar. Ela, às vezes, tenta forçar um desejo que soa falso, soa frio, e logo abandona. Não tem jeito, se é homem, tem que ser ele. Se é pra usar o sexo, que seja o sexo do ser que ela escolheu pra marcá-la pela vida. Não vê sentido em outra saída, não quer buscar outra saída. Quer ele e só, quer ele e pronto, por isso está sempre vazia.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Completo

Preencho-me de tudo, entrego-me também,
Só que uma coisa eu tento esconder:
o vazio que há no que sou.

domingo, 23 de agosto de 2009

Temor

Tenho medo dessa certeza e da clareza do meu sentimento.
Suplico ao vento que leve embora a paixão antes que me devore.
Tudo meu é intenso demais e você me traz um desejo desenfreado de te tocar.
Somos mar, mas de ti só conheço a calmaria.
Já a mim, tu só viste a tempestade.
Invade meu corpo como o ar: invisível e prazeroso.
Sonho com teu gozo de homem disposto a fazer poesia.
Tenho medo dos seus olhos.
Olham-me pedindo o que não sei.
Agonia temer o que talvez grita me querer.
Agonia te ver e esconder a alegria de deparar com sua boca.
Louca, minha alma te anseia, te declama, te aguarda.
Não sei se quero que parta ou fique,
Só sei que um vulcão habita em mim,
E confesso: temo a erupção.
Também temo o meu fim.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Rainha

Teus pêlos roçando meu corpo
Como se fossem um trator arrancando feridas antigas
[Marcas que habitam a mim
Desde que me conheço].
Contigo esqueço o desgosto da desilusão.
És quem sou.
A medida exata que faltava no encaixe dos meus poros.
Teus olhos dizem tudo o que você não entrega
E eu sei [a tua alma não nega]
Que você veio para permanecer.
Tuas mãos desafiam meu pudor,
E como eu gosto de fingir o que não sou
Só pra te prender mais,
Só pra me guardar mais,
Aguardando o instante definitivo
De gritar que sou tua,
Na rua, na lua, no infinito!
És bonito não só pelos pêlos,
Pelos olhos, pelo sorriso.
Tua beleza surge quando tua alma se une a minha.
E eu finalmente te confirmo:
Sou a rainha programada para o reino,
Qual carregas contigo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Não Deixar o Mundo Assim

Pergunta-me se quero ir agora,
Já que a aurora te disse que estou apta à partir.
Não tenho medo do que está por vir,
Mas receio o que deixarei.
São planos que ainda não completei,
Palavras, revoltas, lutas que não declamei.
Se vim à Terra para fazer só o que fiz até agora,
Não diria que perdi tempo,
Mas confessaria que gostaria de mais um lamento para abrigar.
A vida que alimentei até aqui,
Foi construída por dores que transformei em flores.
E eu te digo, Senhor, que o jardim não está completo.
Alguns botões de desamor esperam meu corpo, minha alma
E minha fome de querer transformar em concreto
O que o homem não vê, porque se acha esperto demais.
Sabe, Senhor, encontrei a paz nos meus devaneios,
Transformei-os em atos, palavras, sorrisos que fizeram diferença,
Mesmo que mínina,
Na vida de quem queria me ver.
A aurora nada sente quando vê algum doente pedindo um sorriso,
Mas em mim, Senhor Querido, sempre nasce um buraco,
E o que eu viso, é dar as mãos.
Se eu tiver que partir, que me deixe ao menos
Semear os meus sonhos no coração de quem se assemelha a mim.
Acho um pecado, Senhor, partir assim:
Deixando o mundo ainda enfermo, ainda carente de mais Querubins.

sábado, 8 de agosto de 2009

Impaciente

Impaciente.
Esperando teus braços que, mesmo pouco fortes,
Foram feitos para proteger a mim.
E assim te declamo:
Sabor de fome insaciada,
Procura desenfreada por algo que lembre teu nome.
“Se alguém some, é porque não quer aparecer”, diz-me uma voz amaldiçoada,
Mas prefiro crer que houve algum imprevisto no ato do reencontro.
Insisto em você, porque surgiu sem que eu quisesse
E me trouxe o gosto de algo que nunca mais havia provado.
Insisto em você porque há mistério nos seus olhos,
Nos seus toques, nos seus lábios...
E o que eu quero é te desvendar devagar, por partes,
E logo devorar a tua alma.
Já disse que não tenho calma?
Minhas mãos estão molhadas e gritam teu corpo a todo instante.
Não cometa o crime de fazer da tua matéria, algo distante,
De deixar com fome a carne errante que só deseja sentir o gosto da liberdade:
Propriedade particular da sua profana existência.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Paz é Guerra

Eu falo, falo, falo e nada!
Por que não me calo?
O calo nas cordas não me abala.
Por que eu grito?
Os ouvidos estão poluídos
De corrupção, de impecílios.
Meus cílios permanentemente antentos,
Querem atentar aos indevidos.
Porque não me alio?
Aliada, ouvirão o rangido do meu partido.
Por que ninguém entende
Que não estou aqui inutilmente
E quero rapidamente a solução dos conflitos?
Por que eu só brigo?


Digo que sou paz, mas quero a guerra.
Corro perigo!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Melodia do meio termo

Às vezes eu me perco
Nesse meio termo: realidade e o que sonho.
O vizinho distante já foi meu antigo amor,
O grande amor é apenas um estranho.
Toda noite durmo vendo estrelas no arpoador,
Todo dia passo pela avenida coberta de anjos.

Se te falo coisas que não entendes,
É porque tu brotaste em mim como flor.
Se atuo de forma surpreendente
É porque te criei independente da dor.

E assim eu continuo me perdendo...
Se encontrar, perderei quem sou.
E assim eu continuo me perdendo...
Se achar, não haverá mais vôo.
(2x)

Não me deixe acreditar no que, de fato, existe,
Se só não sou triste,
Porque vida eu sempre dou...


À tão bendita ilusão!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Passos

Eu tenho medo, confesso.
O próximo passo é também o que não darei.
Nunca sei ao certo para aonde ir,
Por não querer deixar nada para trás.
Não busco a escolha certa,
Mas uma vida ao menos completa de vivência.
E dessa existência, não experimentarei a metade.
Porque não posso ser duas, três, mil?
Quero a infinidade do possível!
Dar todos os passos, amarrar todos os laços,
Ter tempo para amar o não cabível.
Toda essa monotonia chamada única escolha
Faz do abismo um buraco raso,
Do impossível um desejo raro,
Faz da realidade uma concretude desinteressante.
Eu quero tudo que meu sonho me impõe.
Tudo que o desconhecido propõe.
Eu quero ser o que não pensei
E não ter motivo pra temer,
por poder dar todos os passos que meus pés gritam.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Menino Bonito

Certo dia, movida pela embriaguez, deparei-me com um menino... Lindo! (Poderia ser mais, se não fosse aquele jeito de quem olha para baixo, como se não pudesse levantar a cabeça, como se alguém o mandasse se manter ali, no chão; como se ele não soubesse mais olhar para o sol, para a luz)
Perguntei o que fazia naquele lugar impróprio para alguém da sua idade. A madrugada era fria, ele estava descalço. Nada respondeu. Só olhou pra o objeto em minha mão, que continha ainda a bebida qual antes daquele momento me proporcionara uma felicidade ilusória. Não entendi. Um amigo que me acompanhava naquele dia, após beber tudo que continha em sua lata, jogou-a no chão e, feito criança atrás de doce, o menino correu atrás do tão glorioso guardador de bebidas. Perguntei se era a nova forma de brincar dos meninos de hoje em dia [eles andam um pouco diferentes dos da minha época]: colecionar latas para depois fazer sabe lá o quê.
Ele, por um raro instante, levantou a cabeça, sorriu de lado, se encheu de um rancor que gritava pelos seus olhos e poros, e disse: "Tô brincando de viver".

Desde então ando bolando alguns planos pra morrer antes de conhecer a tal vida.

Espírito

Como um espírito volta ao lar que deixou
E novamente tira todos os cômodos.

Eu já havia enfeitado a casa
[Não com cores e objetos tão bonitos
Como quando você estava,
Mas havia].

Tem o poder de destruir tudo que construo.
É avassalador nas palavras, nos gestos, nas lembranças.
Retomar a história que foi vivida
É ter certeza que igual a você, não existe.

Por isso, insiste em relembrar tudo!

Contudo, agora, não é possível voltar...
Você é espírito e só.
É apenas o que diz, é pó, e não pode ao menos segurar minhas mãos
[quais tantas vezes ensinou o que fazer].

Fui assassina desse crime que não quis cometer
Para poder me livrar da necessidade de declamar tantas vezes teu corpo.

Não volte mais aqui, feito louco, querendo destruir o que finjo ser verdade.
Não há mais necessidade do que passou.
Contaminou-me e ensinou-me tudo o que sou,
Mas o seu espírito não cabe mais em mim.

Vá, viva o seu mundo sem fim [dos mortos]
Construa mais paixões, mais ilusões, mais dores.
E me deixe aqui,
Tentando ser feliz com pseudo-amores, infilntrando-me em seus singelos poros.

Rezarei por você!

Espírito de luz,
Afaste-se de quem tem medo de cometer suicídio por um capricho,
Por um desejo imenso de novamente, feito bicho, querer te ter.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Meu homem mundano

Chegou como se ainda fosse costumeiro estar presente.
Deitou em minha cama, olhou para o ventilador que fazia uma melodia particular sobre ele, e contou histórias que viveu desde a ultima vez que me viu [em prantos, no meio da avenida, declamando ódio pelos poros]. Não sei se o intuito dele era me enciumar, ou me deixar bem, só sei que nada me importou naquele momento. Só a voz dele, a boca, o sorriso, os pés cheios de pêlos, o cabelo despenteado, e o cheiro de perfume misturado com o álcool das bebidas deliciosas que é viciado em beber.
De repente, olhou pra mim e pediu que contasse o que também acontecera nesse meio tempo.
Assustei-me.
O que haveria acontecido enquanto ele não estava? Tentei rebuscar na minha mente primeiro palavras de mínima importância, depois palavras extraordinárias que gritassem que por aqui eu estive muito bem, bebi como ele, saí como ele, beijei, fiz amor tanto quanto ele deveria ter feito, ou mais. Mas, tinha certeza que isso não acontecera. Que eu não deixei minha boca trair os lábios canibais dele, não deixei meu sexo trocar o dele [tão bom] que me ardia e explodia em palavras e gemidos quais eram as inspirações para as minhas futuras poesias. E essas eram as únicas certezas que eu tinha naquele momento.
Resolvi dizer o que me vinha à mente, sem pensar demais. Esse negócio de orgulho tinha me afastado dele de tal maneira que esqueci as coisas e me enchi de uma consciência falha. Foi preciso despir-me desse para que eu fosse quem ele sempre experimentara. Ele também se despiu. Estava aqui, ao lado, contando o que acontecera. Era estranho, mas havia voltado. Não sei com qual intuito... Contudo, trouxe o seu cheiro, o seu cavanhaque, a sua blusa preta com enfeites brancos, o seu sorriso, a sua poesia, e ele sabia que era isso que me fazia cometer loucuras por ele.
Homem! Ele sempre soube ser homem. Não só na cama, mas na hora de derreter uma mulher. Qualquer momento para ele é momento de fazer uma mulher se sentir a tal. Poderia chamá-lo de canalha, só que não é. Ele é homem [em dias de hoje, leitor, convenhamos que é difícil reconhecer um homem de verdade] e eu não poderia dizer mais nada além de:
- "Estive o tempo todo pensando em você. Em seus beijos, em suas mãos, em seu sexo. Desde que se foi não fui de mais ninguém. Nem meu corpo, nem meus pensamentos e não me sinto mal por isso. Pelo contrário. Preenchi-me mais de você, conheci mais você, porque a distância também ajuda a avaliar o ser que continua presente na gente. E não posso dizer nada mais, já que nada mais recordo além de você na minha vida, seja de qual maneira for".
Ele sorriu. Parecia que essa resposta já era esperada. É, eu não sei ao certo se era isso mesmo, mas como eu não recordava e essa resposta era a mais conveniente pro momento ficar mais exótico, a preferi. Também disse coisas mais que o momento não convém dizer, mas o leitor já pode imaginar.
Ele botou a mão em minha nuca, pegou-me pelos cabelos [que já estavam mudados e mais fáceis de segurar] daquela forma bruta que eu ficava louca e começamos assim a nossa poesia.
Essa era mais bonita. Tinha um quê de saudade do que passou e do que poderia vir. Fiz tudo o que eu não havia feito durante aquele antigo tempo. Não tinha mais pudor nenhum pela certeza que eu obtivera nesse tempo da sua ausência sobre a paixão que eu o tenho.
Foi o melhor de nossos momentos.
Por fim, levantou da cama, vestiu-se, olhou-me inteira [estava com cara de boba apaixonada, que nem essas crianças ficam quando dão o primeiro beijo e ao mesmo tempo com cara de mulher ainda cheia de desejo, pedindo mais], sorriu [um sorriso eterno], beijou-me a testa e disse:
- "Agora que te fiz mulher de verdade, não seja só minha. Não gosto de monopolizar o que transformei, como esses capitalistas fazem [ele é um desses revolucionários socialistas quais ainda acreditam que o mundo pode ser de todos]. Depois que você conhecer mais esse sexo que só eu te dou, depois que você passar por alguns outros homens, eu volto e te faço novamente só minha".
Mais uma vez sorriu, esse sorriso era de lado.
Virou-se.
Em frente à porta olhou para trás, disse:
- "Se cuida".
Você, leitor, deve estar imaginando agora o quanto eu devo ter ficado mal, irritada, ou magoada. Mas, não. Não guardei em mim sentimentos ruins. Pelo contrário. Ele, por ser homem, tem o dever de fazer mais mulheres e eu, por ser mulher agora feita por ele [e não pelos que já haviam passado, quais nem me recordo ao certo], também tenho o dever de fazer homens. Eu entendi que ele me quis como uma aliada para socializar ao mundo o sabor indescritível do gozo, do sexo, da vida. Que homem era ele! É de se entender que um homem como ele não foi feito para uma só [pelo menos no início de sua juventude]. Desperdício! Por isso, sinto-me muito feliz e realizada. Enquanto faço homens, conheço homens, o aguardo impacientemente, já que, apesar dele ser do mundo, ele disse que iria voltar só pra mim. E ele vai voltar.
Um homem [sem dúvidas] só meu.

domingo, 21 de junho de 2009

Bilhete de quem não tem orgulho

Já virou costume repousar meu corpo
Pensando no teu.
Mania, fome, sede de você.
Eu não quero mais saber o que faz:
Quem fere, quem cuida, quem magoa, quem ama.
Quero somente que não me deixe mais uma vez
Deitar nessa cama que te grita a todo o tempo.
Mesmo que eu queira, nada quer te deixar ir embora.
Teu corpo foi, mas ficou tudo que é teu aqui.
Esse leito que tantas vezes foi nosso,
Faz dos destroços um novo castelo.
E eu quero de novo provar
A dor de te ver penetrar em meu corpo,
Ossos, poros...
Em minha alma!
Tudo ao redor declama teu nome.
Te espero com fome do teu íntimo,
Com sede da tua saliva,
Com desejo da tua essência.
Volta,
Antes que eu me apaixone pela tua imortal lembrança.

Inexisto

Então, deparo-me com a realidade das ruas.
Olho pra trás e não vejo as marcas dos meus passos.
Reconheço: inventei tudo até chegar aqui.
Não persiste mais em mim,
Diante deste cotidiano desconhecido,
O sentimento.
E eu descubro, sustentada pela suposta verdade do mundo,
Que sou tudo o que não é.
O que me completa não existe.
Meu fim só não é triste,
Porque nada sei sobre o começo.
Arremeço-me agora contra a tempestade desses corpos frios
Na esperança de que a formalidade dos dias comuns e sombrios,
Tranforme-me em alguém que seja o que realmente existe.

sábado, 20 de junho de 2009

Último Passo

Note: Já não estou mais aqui.
Fui embora, com o peso nas costas
De quem não soube para onde ir.
A nova aurora reforça a incerteza dos meus passos.
Não há mais laços, abraços... Não há cor.
É dor o que me guia.
Minha única companhia é a noite:
Seu silêncio, suas almas que vagueiam sem luz...
Sou o passado do meu fim,
O último passo diante da imensidão da morte.
Não quero a infeliz sorte de poder sobreviver.
A vida é para os fortes,
E cada vez mais me sinto invisível:
Quanto mais fraca, mais me vejo desaparecer.
O que ficou de mim diante de ti,
Foi essa carcaça mal feita
De quem não quer receita pra recomeçar a vida.
O que restou daquela querida que te fazia sorrir,
Foi a imagem maldita
De quem não soube dialogar com o caos,
Senhor soberano do dia-a-dia.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Reparei, amor.

Hoje eu reparei, amor,
Que as linhas retas do caminho não valem a pena.
Acho um pecado querer àquela frente tão pequena,
Enquanto perto há um mundo de possibilidades.
Ruindade, amor, sonhar com o difícil,
É precipício que os comuns têm mania almejar...
Não quero o mesmo vício!
Se é pra me jogar
Que seja nos braços de quem está ao meu lado,
Se é pra cometer suicídio
Que seja de um precipício mais simples,
E mais gostoso de voar.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Alguma coisa que veio para mim, ou está indo embora

Eu me despeço de tudo que fui para ser o que ainda não sei.
Não cansei de mim, só não consigo mais lidar e tenho medo.
Medo que está consumindo até as minhas horas fraternais com meu corpo e pensamentos.
Angústia, o nome.
Angústia que estupra meu último pudor e alimenta todas as lástimas.
Não quero mais meu corpo, minha voz, meus desejos.
Entre a vida e a morte vejo semelhanças e mais vantagens na última, talvez.
“O que você fez?”,
Pergunto-me.
Mas, não me dou o direito de resposta, porque abomino minhas conclusões.
Estúpida, cruel, divina é o que sou. Ou melhor, o que fui.
“E agora?”,
Mais uma vez me faço pergunta. Esta, sem reposta.
A estrada escura me atrai.
Lá não verei rostos, corpos, olhos, e não verão quem serei.
E me aceitarão.
Não falarei, não profetizarei como de costume,
Não amarei, não julgarei e mentirei.
Mentirei porque é a mentira que move e se não saí daqui até hoje,
Foi porque minhas verdades me prenderam.
O que há na verdade além do ar falso de alguém que não sabe viver?
Estou diluindo junto do meu sangue toda a minha energia e fantasia,
E me rasgo por inteira,
E me vejo escorrer por cima das marcas dos passos de quem já se foi.
E avanço por entre vermes e flores,
E me escondo no ninho dos mortos,
E me recrio sem saber o que me tornei.
Ainda não mutilei a angústia e as dores.
Uma resposta? Eu não sei.

domingo, 14 de junho de 2009

Vou sim Senhor

No dia 29 de maio de 2009, a escola técnica de interpretação teatral SATED foi retirada do Retiro dos Artistas. Pelos anos que vivi lá, por tudo que aprendi, escrevi esse texto e, por mais que as palavras sejam a única forma concreta de traduzir o que sentimos, eu não consegui colocar nelas tudo o que sinto. Infelizmente nem todos são artistas [lembrando que ser artista não é só se formar como algum ícone da arte, é simplesmente apoiá-la e admirá-la] e foi preciso dar "adeus" a minha raiz e de muitas outras pessoas!


(...)


Ele diz: “vai”.
Vou sim.
Mas, meus passos ficam.
Minhas histórias continuam aqui.
“Vai”.
Vou sim,
Mas deixo de presente essa minha sede, esse meu amor por tudo que vivi.
Vou, vou com o coração aqui.
Com o principio das minhas ideologias,
Com minhas raízes mais findas que ninguém pode mandar ir.
Sabe o que vai acontecer, Senhor Destruir?
Todos irão como queres,
Mas até em ti ficará essa essência,
Esse gosto pelo que se viveu.
Restará em ti o vazio,
A falta de troca,
O estágio sombrio da vida.
Não percebes, Senhor Capital,
Mas o valor que dás ao banal é tão pequeno quanto teus pensamentos.
E logo se arrependerá e logo cairá no esquecimento!
A gente vai.
Estamos indo...
Abrindo essa porta que nós construímos,
Levando essa alegria que nós trouxemos,
Carregando no peito o desejo de fazer mais,
E deixando pra ti - com muito gosto - a infelicidade de não mais poder caminhar.
Continue aqui:
Cuide das árvores,
Das folhas que a gente catou,
Dos frutos que a gente colheu,
Das histórias que a gente viveu,
Dos mitos que a gente aprendeu,
Dos senhores que demos as mãos
E os fizemos lembrar seu valor.
Senhor Desamor, falta em ti o que nós temos de sobra,
Que é a arte de saber viver,
De saber construir,
De saber partir e mesmo assim ficar.
A gente deixa o lugar que a gente ama
Marcado pelos nossos corpos.
E eu te garanto, Senhor dos Destroços,
Que o próximos Senhores que trouxeres
Vão ouvir nossa voz ausente,
Vou se encantar pelos nossos mistérios
Vão nos querer ver,
Não conseguirão e partirão...
Deixando aqui também a enorme vontade de assistir quem construiu o que tu quiseste - mas não conseguiste - destruir.
Obrigada, Senhor Ignorância, pelo nada que és.
E por nos dar o espaço para mostrarmos que somos tudo
Aqui, em nosso lugar...
E aí, dentro da oca e infeliz realidade do teu mundo.
Adeus.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Do Mundo

As minhas verdades não estão nas palavras que vomito.
Aliás, verdade é o que não há em mim.
Grito sim.
Mas minhas razões são equivalentes às de quem consome o que diz ser contra.
Sou o oposto das formas físicas e poéticas que me pertencem e abomino.
Não procure em mim motivos, inspirações, abrigos, conselhos, ou qualquer coisa admirável em um ser que se diz poeta.
Sou o cúmulo.
O cúmulo de tudo.
Sou um pouco de tudo, menos de coerência.
Sou prematura.
Idealizada relativamente concreta, completa e revolucionária.
Mas, embrião que sou, virei nada.
E sei que só consegui chegar até aqui,
Porque o mundo é cheio de mim.
Alienada, aguardo meu fim.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Pé De Desamor

Eu planto o que colhi.
E vindo de ti a semente,
O fruto tem sabor ausente
E envenena qualquer enamorado.
Assim, renovo-me.
Sou o ser mais mal-amado
Que, a cada dia, piora de estado.
Caminho para o fundo.
Não há esperança,
Quem dera não houvesse futuro.
Tu que me dá a oportunidade de ser,
Não me deste a alegria de adocicar a vida.
E agora, amarga e partida,
Nem a ti, nem a ninguém pertenço.
Sou do nada, envenenada pelo meu próprio alimento.
Lamento, meu querido pé de desamor,
Tu és meu criador, por isso, não sou bom fruto,
Não me transformarei em bela flor.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Desumano

Não.
O prazer de destruíres meus sonhos com atos ingratos, não será teu!
Aliás, o que terás de mim no eterno, é apenas esse desejo intraduzível de querer tua alma em minha boca.
Passas fingindo que és humano. Não és. Eu sei. Traduzo-te pelos teus - ainda cegos - olhos nus.
Digas mais versos falidos, prosas sem gosto, desperdices mais sorrisos com seres que não lhe valham... Continue!
Não me dói.
Não me dói, porque essa máscara não é tua. Porque o que apresentas pra qualquer nua, é carne, enquanto eu e o que realmente és, somos espírito.
Perceba, querido: fui criada pra te pertencer.
Não podes desobedecer as leis da vida.
Não permito que me deixes partida no início dessa estrada tão poética que nos aguarda.
Teus atos não me dizem nada. Teus olhos, sim.
Aguardo.
Quando teu olhar, de fato, enxergar,
Quando teu corpo não mais desobedecer ao destino,
Quando teus passos seguirem os rastros dos meus versos.
Inteira, estarei.
Completa do que é teu.
Inspirada na poesia da tua alma.
E te mostrarei, não mais provida de calma, que os prazeres do teu íntimo [os quais nem tu conheces], foram guardados só para mim.
Assim, continue a amar pela metade,
Mas, quando vieres, jogues fora tudo o que tens de humano, tudo o que é realidade.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Você

Você vem me cobrar uma presença que nunca havia feito questão no momento em que eu abri meu corpo para deixar suas marcas fixas em mim. Não é assim. Diferentemente de você, eu precisei de tratamento para curar esses focos de tumor que deixou em meu sangue. Por mais que seja difícil para você aceitar isso - já que nunca passou, ou se esqueceu - aprenda que um passado não se apaga como você apagou as minhas poesias escritas a lágrimas na sua pele, e nem tem como ficar tudo bem com alguém que quis o impossível, alguém que quis uma idealização de ser humano. Depois de tanto engano, não me abalo mais. Você chega, e agora eu te digo as verdades que eu sabia, mas meu coração desconhecia, ou não queria admitir. A verdade dói, por isso estou jogando todas em seu ego, aguardando para que aos poucos, sem perceber, você distraia e caia desse palanque invisível que você faz questão de exibir esse corpo maldito qual me fez acreditar num amor inexistente. Aproveitando a sua presença - agora não mais inesperada - deixo que me veja por inteira, deixo que olhe meus belos olhos repletos de coerência e dignidade, mas não permito que deixe sair mais uma palavra dessa sua boca tão poética. Eu tirei você de mim: seu corpo, seu suor, seu gozo, sua risada, seus pêlos, seus olhos imensos, sua voz. Mas deixei como lembrança - obrigada pelo meu corpo - suas belas frases. E, por incrível que pareça, são elas que me fazem seguir com certeza, confiante em mim mesma. Suas frases eu guardei numa caixa aqui do lado esquerdo da mente e me fazem agora um ser repleto de razão e sem vestígios de sentimentos. Minha caixa de ilusões, incoerentemente ou não, me protege de seres iguais a você: que têm o mesmo disco de informações, as mesmas revistas para inspirações, a imitação dos conceitos de algum ser incrivelmente patético que só deve ter frases por dentro, e de resto, deve ser oco. E é por isso que lhe peço que não diga mais nada. São tantos os seres que dispensei por dizerem falas iguais as suas, que não as quero ouvir mais. Você agora me pergunta o que faço aqui, parada, com a alma repleta de uma esperança imensurável, e eu lhe digo com o enorme prazer: aguardo um ser que não saiba falar, não espero uma boca bela, cheia de poesias e palavras encantadoras, aguardo sim uns olhos que digam frases mudas para que eu não precise verificá-las na minha caixinha de ilusões que você me ajudou a construir e para que eu seja finalmente verdadeiramente feliz.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Inimigo

Passas por mim deixando rastros de versos mudos...
Iludo-me com as verdades extraordinárias que compõem teu corpo bruto.
És, de fato, do mundo?
Teus olhos vão além do que a humanidade abriga!
Procuro aqui dentro o que te atraia,
Mas sou traída por esta minha alma presa a cotidianos falidos.
Inimigo real és, pois tens tudo que sonho,
Pois és tudo que quero, pois vives de verdades.
Quero possuir-te, ouvir-te declamar estes versos eternos sem deixar rastros,
Quero sua fala convicta, sua sabedoria extra-humana.
Sua boca, seu suor, seus olhos, tudo que te faz ser poesia.
Guerrear contigo, perder.
Perder-me.
E, quem sabe, após, encontrar-me dentro do universo que existe na beleza de seu sorriso.

Inimigo, eu me rendo...
Inimigo, dê-me abrigo.