domingo, 23 de agosto de 2009

Temor

Tenho medo dessa certeza e da clareza do meu sentimento.
Suplico ao vento que leve embora a paixão antes que me devore.
Tudo meu é intenso demais e você me traz um desejo desenfreado de te tocar.
Somos mar, mas de ti só conheço a calmaria.
Já a mim, tu só viste a tempestade.
Invade meu corpo como o ar: invisível e prazeroso.
Sonho com teu gozo de homem disposto a fazer poesia.
Tenho medo dos seus olhos.
Olham-me pedindo o que não sei.
Agonia temer o que talvez grita me querer.
Agonia te ver e esconder a alegria de deparar com sua boca.
Louca, minha alma te anseia, te declama, te aguarda.
Não sei se quero que parta ou fique,
Só sei que um vulcão habita em mim,
E confesso: temo a erupção.
Também temo o meu fim.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Rainha

Teus pêlos roçando meu corpo
Como se fossem um trator arrancando feridas antigas
[Marcas que habitam a mim
Desde que me conheço].
Contigo esqueço o desgosto da desilusão.
És quem sou.
A medida exata que faltava no encaixe dos meus poros.
Teus olhos dizem tudo o que você não entrega
E eu sei [a tua alma não nega]
Que você veio para permanecer.
Tuas mãos desafiam meu pudor,
E como eu gosto de fingir o que não sou
Só pra te prender mais,
Só pra me guardar mais,
Aguardando o instante definitivo
De gritar que sou tua,
Na rua, na lua, no infinito!
És bonito não só pelos pêlos,
Pelos olhos, pelo sorriso.
Tua beleza surge quando tua alma se une a minha.
E eu finalmente te confirmo:
Sou a rainha programada para o reino,
Qual carregas contigo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Não Deixar o Mundo Assim

Pergunta-me se quero ir agora,
Já que a aurora te disse que estou apta à partir.
Não tenho medo do que está por vir,
Mas receio o que deixarei.
São planos que ainda não completei,
Palavras, revoltas, lutas que não declamei.
Se vim à Terra para fazer só o que fiz até agora,
Não diria que perdi tempo,
Mas confessaria que gostaria de mais um lamento para abrigar.
A vida que alimentei até aqui,
Foi construída por dores que transformei em flores.
E eu te digo, Senhor, que o jardim não está completo.
Alguns botões de desamor esperam meu corpo, minha alma
E minha fome de querer transformar em concreto
O que o homem não vê, porque se acha esperto demais.
Sabe, Senhor, encontrei a paz nos meus devaneios,
Transformei-os em atos, palavras, sorrisos que fizeram diferença,
Mesmo que mínina,
Na vida de quem queria me ver.
A aurora nada sente quando vê algum doente pedindo um sorriso,
Mas em mim, Senhor Querido, sempre nasce um buraco,
E o que eu viso, é dar as mãos.
Se eu tiver que partir, que me deixe ao menos
Semear os meus sonhos no coração de quem se assemelha a mim.
Acho um pecado, Senhor, partir assim:
Deixando o mundo ainda enfermo, ainda carente de mais Querubins.

sábado, 8 de agosto de 2009

Impaciente

Impaciente.
Esperando teus braços que, mesmo pouco fortes,
Foram feitos para proteger a mim.
E assim te declamo:
Sabor de fome insaciada,
Procura desenfreada por algo que lembre teu nome.
“Se alguém some, é porque não quer aparecer”, diz-me uma voz amaldiçoada,
Mas prefiro crer que houve algum imprevisto no ato do reencontro.
Insisto em você, porque surgiu sem que eu quisesse
E me trouxe o gosto de algo que nunca mais havia provado.
Insisto em você porque há mistério nos seus olhos,
Nos seus toques, nos seus lábios...
E o que eu quero é te desvendar devagar, por partes,
E logo devorar a tua alma.
Já disse que não tenho calma?
Minhas mãos estão molhadas e gritam teu corpo a todo instante.
Não cometa o crime de fazer da tua matéria, algo distante,
De deixar com fome a carne errante que só deseja sentir o gosto da liberdade:
Propriedade particular da sua profana existência.