domingo, 30 de maio de 2010

Ritual dos Vícios [ou de mim]

Sim,
Dou chance aos vícios.
Percebi isso hoje.
Talvez porque dizem que eles aliviam,
Ou contaminam.
Gosto de ser contaminada por algo que não vem espontaneamente,
Simplesmente porque as minhas escolhas me relatam.
Sempre me vicio em homens pacatos,
Porque também sou.
Meu fumo fede,
Como a mim.
E assim, numa espécie de ritual,
Celebro meu ser
E provoco minha morte.
Sorte: minha vida pacata, celebrada,
Transformou-se em arma
A favor da chance desestimulante de viver.

sábado, 29 de maio de 2010

Tempestade

Não me venha falar que é exagero tudo o que digo ou desejo...
São apenas as minhas verdades.
Acho uma atrocidade ouvir você dizer que não faço sentido
Se o que tem dado rumo aos meus passos,
Foi o que absorvi dos teus atos.
Confesso que talvez a complexidade tenha tomado conta do meu corpo.
Mas não julgue como louco o meu pensamento,
O meu sofrimento,
O meu fervor diante da sua desordenada presença.
Intensa é a forma como eu te quero comigo e também longe.
Não premedito aonde isso tudo vai chegar.
O mar que abrigo começa a ficar em ressaca
E eu não sei o que mais vou ter que destruir
Pra tomar coragem e partir sem suas marcas,
Sem sua normalidade que angustia

E mata.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Espelho

Vê escorrer por mim todos os meus pedaços.
Como uma vela que vai se apagando
Sentindo, ao poucos, a dor que grita arranhando todo o corpo.
Feito louco, observa e não diz nada.
Estou contaminada pelo seu vazio.
O cenário está cada vez mais sombrio
E eu também, como sua alma.
Pede-me calma, mas não ameniza meus conflitos,
Lança-me sorrisos, mas não absorvo nenhum.
O que há de comum em nós,
Que me transformou em espelho do teu ser?
Que me fez jogar fora toda esperança no alvorecer da vida,
E as forças pra dar início a quantas partidas
Fossem necessárias?
Arbitrárias foram as condições que nos trouxeram até aqui:
No limite,
Que só podia ser triste,
Que só podia ter como ponto final
Minha luz apagada,
Minha alma acabada,
Meus sonhos desbotados como as roupas do teu varal.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Poema Mentiroso

E quando vou falar dos teus passos,
Vejo os meus correndo pros seus braços,
Querendo intensificar ainda mais os laços
Que me transformam em escrava da tua alma.
A minha grita a tua,
Implora.
[Enquanto a outra me devora sem dó.]
E cada hora que elas passam unidas,
A mente fica munida
Da ausência do pavor que é pensar na minha vida
Sem a tua.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Linearidade Da Nossa História

Meus versos não gritam mais teu corpo,
Nem meus poros.
Melhor.
Por ter morrido em mim,
Renasci.
Brotou em mim a flor,
Cheia de cor.
Você voltou.
Morri.
A flor ficou
Você cuidou, se apaixonou...
Minha alma está alí.

Aquela Mulher Forte

Quem te criou foi mulher,
Que te mostrou o que é ser mulher,
Mas esqueceu de jogar a força do teu nome
Pro que é sensível.
Ela foi julgar a falta de nível dos seus sonhos
E esgotou todo o tempo que sobrava.
Assim, se tornou mulher brava,
Só que sem maiores esperanças,
Sem as demais alianças,
Sem sensibilidade,
Sem nada.
Consequentemente,
Você ficou vaga.

Vertigem

“Oprimido ou opressor?”
Questionei-me quando perguntaram sobre minha origem.
Vertigem talvez seja o que eu sou, ou sinta.
Maneira suscinta do diabo infiltrar nas cabeças ingenuamente indistintas:
Coloca um véu sobre as ações,
Faz com que o individuo destrua todas as contruções
[metafísicas ou não].
Tirei o que encobria a visão.
Olhei pro chão: sou eu quem o fiz arrastar ali.
Olhei pra cima: é ele quem me faz estagnar aqui.
Estou em momento de transição,
Mas qual seria – se eu pudesse escolher –
A melhor posição
[Levando em consideração a vontade de dormir sem culpa
E poder alimentar-me cada vez mais de compaixão]?

sábado, 15 de maio de 2010

Talvez

Talvez, de tanto amar o homem se esqueça do amor.
Não porque se põe à chorar, mas porque se põe a compor.
Vira música a vida, e entre acordes e batidas,
Vai se diluindo o impulso do querer.
Quando começa a perceber,
Não se sabe mais quem domina:
As cordas com as rimas
Ou os desejos, que são frutos dessa ausência de paz.
Digo isso porque sou homem,
E porque talvez eu tenha amado demais.
Mas, me encontro aqui:
Preso no som dessas notas
Que gritam meu passado (qual não lembro).
E, num lamento,
Espero, atento, as respostas
Das perguntas que talvez não me interessem mais.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Só?

Andando pelas ruas que nunca pensou em passar
Descobriu, talvez, o que queria [ou não]:
O ser humano é só!
Nasce sozinho, morre sozinho e queria entender
Por que tem gente acreditando que
Necessariamente ele vai ter passos acompanhados.
As duas pernas e dois braços, olhos e ouvidos
Devem servir justamente pra isso, concluiu:
Se não conseguir solucionar algum problema com um,
A gente usa o outro.
A partir dessa conclusão, tudo ficou mais simples [ou não]:
Olhou pro mundo e sentiu uma desilusão imensurável.
A verdade que havia criado matou todas as suas expectativas.
Por mais que antes ela se desiludisse com quem depositava seus sonhos,
Ainda existia a esperança de encontrar outro ser melhor.
Onde, agora, guardaria suas ilusões?
Pegou todas elas e jogou no primeiro lixo.
À alguns metros de distância, olhou pra trás
E viu o mendigo feliz, recolhendo-as
Tirou outra conclusão [essa era definitiva]:
“O ser humano é só, mas a vida exige outros”.
Para ratificá-la
Olhou pro seu órgão sexual e percebeu:
Esse, eu tenho um só.

Derradeiro

Vai embora
Como quem chora:
Não se conforma com o que é imposto,
O desgosto entala na garganta.
Sabia que o momento derradeiro viria,
Que a falsa alegria
Iria diluir além de seus sonhos, sua alma.
Pede calma ao corpo que não domina mais,
A paz já não chama atenção.
Sabe que jamais vai chegar aonde quer,
Nunca foi assim!
Se pudesse, colocaria fim à matéria que tem seu nome,
Mas as forças que tinha
Agora é ele quem as consome.

domingo, 2 de maio de 2010

Para Nunca Mais

O silêncio dos seus passos ecoaram em mim.
Nada mais tem voz,
Só o desejo de ainda te ter,
Só a vontade de dizer que te aceito em qualquer condição.
Mas não. Calarei essas ânsias,
Com a vaga esperança de que meus passos
Vão me guiar pra algo concreto,
Que meus novos laços
Vão me fazer sonhar
Com olhos não mais incertos.
Ignoro minhas lágrimas,
O punhal cravado no peito,
A vontade de gritar que de qualquer jeito
Quero estar ao seu lado.
Eu vou partir para aonde não quero
E, sinceramente, não sei o que espero
Além de teu ser entranhado em outra imagem.
Estive de passagem no teu reino
E o que furtei dele
Foi a certeza de que existem mais seres inseguros no mundo,
Além de mim.
Que sejamos, então, felizes assim:
Para nunca mais.