domingo, 28 de março de 2010

Materialização do Poema

E qual seria a rima mais intensa que o atrito dos nossos corpos?
Que poema declamaria a força imensurável das nossas trocas infinitas?
Meus esforços em nos delatar, enfraquecem-me,
E só quando deparo novamente com o teu ser,
Fortaleço minhas veias, meus sonhos, meus verbos!
Tudo o que vem de você está tatuado no meu corpo,
Está preso na minha garganta,
Entranhado nos meus passos.
Todos os nossos laços têm nó, têm um quê de eterno, de completo, de preso.
Contigo esqueço o mundo,
Escapam-me a rima, o poema, o ritmo, até o pensamento desleal.
Talvez você seja a minha própria poesia:
A mais intensa, a melhor verbalizada até então.
Talvez esse esforço seja cada vez mais em vão,
Já que te descubro todo dia,
Já que a cada segundo te reescrevo no meu corpo, nos meus sonhos, na minha fantasia.
Os olhos, a alma, a troca, você: poesia minha!
Obra de arte que inventei,
Que só é arte por ser meu, por estar aqui.
Decidi:
Deixo de lado os versos cansados da tentativa fracassada de se tornarem matéria,
E permito que tua imagem grite todos os devaneios meus.

sábado, 27 de março de 2010

Verde Alma

Hoje eu vou calar os meus anseios
E dar lugar pro sereno vindo da alma daquele que é meu dono.
É certo que esses olhos verdes são abrigo do meu corpo enlouquecido,
Quando pensa estar em abandono.
E quanto mais eu me perco, quanto mais eu piro,
Mais eu percebo que é dele, que é pra ele tudo que construo,
Que sem ele eu não consigo ser nada além de uma loucura sem graça, de uma loucura no escuro.
O tempo não passa pra nós, porque nossa história já está dada.
E, enquanto ela não roda, o mundo, os sabores, as cores... tudo fica estático.
Quando eu olho nos teus olhos,
Esqueço da paixão passageira que eu insisto em construir enquanto você não está.
Não há ilusão tão perfeita que me faça trocar a realidade concreta do teu corpo,
Dos teus pêlos, abraços, beijos, pernas, do teu olhar.
Amar você não é capricho, não é necessidade, não é orgulho ou vaidade,
Amar você é ser quem sou por completo,
É fazer com que meu ser esteja certo de que está vivo,
De que pode seguir sem medo da solidão, sem o risco do vazio.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Eu vou te contar que você não me conhece...
E eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não me ouve!
A sedução me escraviza à você...
Ao fim de tudo você permanece comigo, mas preso ao que eu criei e não a mim.
E quanto mais falo sobre a verdade inteira, um abismo maior nos separa.
Você não tem um nome, eu tenho.
Você é um rosto na multidão e eu sou o centro das atenções.
Mas a mentira da aparência do que eu sou é a mentira da aparência do que você é.
Por que eu não sou o meu nome, e você não é ninguém...
O jogo perigoso que eu pratico aqui, ele busca chegar ao limite possível da aproximação
Através da aceitação da distância e do reconhecimento dela.
Entre eu e você existe a notícia que nos separa.
Eu quero que você me veja nua... Eu me dispo da notícia!
E a minha nudez, parada, te denuncia e te espelha.
Eu me relato, tu me delatas...
Eu nos acuso e confesso por nós.
Assim, me livro das palavras,
Com as quais você me veste.

Fauzi Arap

Real [ou/é] Ilusão

Tenho gritado em vão.
Minha voz só quer ser matéria quando não tem teus ouvidos como foco.
O que nos liga é ilusão.
Mero capricho de quem, feito bicho, quer fazer amor a qualquer momento.
Invento motivos que me façam colocar os pés no chão,
Mas eles voam, voam e eu perco o controle das minhas verdades.
Alimento-me do que não existe
E ando com fome,
Fome de mãos, pêlos e olhos que sejam reais, que sejam inteiros.
Ao meu lado estão aqueles que escutam minha voz
Clamando por paz, clamando por algo que não lembre a nós.
Mas, eu os toco procurando você,
Eu os experimento querendo sentir o seu sabor
E continuo só,
Continuo tentando – cada vez mais sem esperança, cada vez mais em vão – transformar-te em antigo sonho,
Em um tipo raro de real ilusão.

Único

Veio lembrar-me o que pensei ter apagado da memória, da minha história.
Mas a verdade é que muito do que sou, vem dele.
Os quilômetros de distância não me impedem de sentir o mesmo sabor de quando estivemos juntos,
De quando descobrimos juntos a essência adocicada do amor puro, inocente.
É no meu inconsciente que ele se abriga e quando eu deparo comigo, no meio do meu devaneio,
Vem-me à flor da pele seu cheiro, seu abraço, seus olhos, sua voz, seus pêlos que gritavam pelos meus.
O tempo não corre pra nós. Não preciso e nem tenho pressa.
Já me disseram que a vida prega peças, mas na nossa história,
Quem prega nosso passado, presente e futuro é a alma de ambos, que é única, que é completa por si só.
Hoje me lembrei de nós, e agucei a certeza escondida no meu baú secreto:
O que vivemos é pouco em relação ao que vamos viver, independente dos longos quilômetros que nos distancia.
[quais acredito cada vez mais que, ao contrário do que se pensa, aproximam-nos].

Sou tua. Sempre fui.