sábado, 31 de outubro de 2009

Secreto II

Ela vai morrer de taquicardia. Faz tempo que repara nos indícios. Sente o pulso pelas veias correndo intensamente, aclamando por amor. Nesses momentos, pensa de maneira urgente em tomar, talvez, a última atitude em vida. Acha romântico morrer do órgão involuntário, não só pelo significado que tem, mas pela força. Diz até que não come coração de galinha, porque acha anti-poético. Patético o estado em que se encontra.
Ela vê o corpo imã de seu corpo, entrega tudo o que tem a ele e aí está a taquicardia intensa. Essa companheira a acompanha quando está mais propensa à paixão [sempre, diga-se de passagem,]. Até a miragem do ser que a chama atenção provoca a palpitação, a pupila dilata, os poros abrem, o sexo faz contração em milésimos de segundo, a conturbação de barulhos do mundo se cala para ouvir o bombeamento sanguíneo imediato, para sentir ou desejar o caminho que corre pelo corpo e provoca ainda mais reações, mais intenções, mais desejos, apelos, gritos, mais a certeza de que a morte está próxima. Diz que é bom saber de qual forma vai deixar o mundo. Julga a morte como resultado da vida e pra ela não haveria outra saída senão falecer do que a move a cada instante de cada dia que experimenta o gosto intenso das paixões que alimenta, sobretudo quando não correspondida.

domingo, 25 de outubro de 2009

Secreto I

Anda mudada. Olhos sem brilho de esperança, de lembrança, de paixão. Diz não ao que pede o coração e se põe a rodar como peça de máquina sem alma, sem calma, sem par. Conhece tantos, mas nenhum acompanha. Está só, como todos. Não faz mais campanha pra ver qualquer homem se entregar. Descobriu que amar é mais uma construção, talvez assim como Deus, talvez como a imagem que transfere pro mundo. Sente o pulmão cada vez mais imundo não só de fumaça, mas da desgraça que absorve todos os dias. Olha pros cantos e não vê verdade em mais nada. Repito: está mudada. Abriu os olhos, sujou a alma, tapou a vontade de se entregar pra tudo. Estranho ter tanto pra dar e só poder dividir com ela mesma. Farejar as impurezas e se calar. Constatar que ninguém quer se declarar por inteiro, porque tem medo, porque tem jogo pra ganhar. Impaciente, quer gritar, mas não se deixa. Está sem voz. Está a sós com o mundo... Estranho como tudo mudou de repente e como a realidade não tem nenhuma ligação com os sonhos que, antes de se abrir, ela, iludida, tinha em mente. Como máquina ela gira, gira, gira e se entontece... É, menina, encontraste o sentido da vida!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

(...)

Vai ser sempre assim. Tenho mais certeza disso que da morte. Há pessoas que nascem para viver de um “amor” e outras para sofrer deles. Gosto do que escrevo e se escrevo é porque me angustio, é porque não consigo tapar o mínimo do tal vazio que existe em mim, porque tenho dor à flor da pele.
Sabe que eu sempre olhei pro mundo e nunca achei que as coisas tivessem nexo... As mãos dadas são sempre opostas, ou estão umas entre as outras, nunca na mesma direção, nunca seguem a mesma métrica. Os seres humanos são assim. Uma vez me perguntaram se eu estava acompanhada e foi então que me vi frente à frente com uma verdade absoluta qual me alimentou desde que nasci (ou desde antes, quem sabe): um indivíduo nunca acompanha o outro (talvez nem a si próprio). Eu quero um ser que me responda com toda a convicção que se sente completamente do outro, que se entrega por inteiro, que compartilha não só o corpo, não só a tal da alma, mas os pensamentos, as angustias, os medos, o orgulho e que, sobretudo, nunca foi falso pra estruturar a relação... Veja bem... O que quero dizer sobre o companheirismo é somente que esse é um dado incompleto. Estar acompanhado não quer dizer que você deixou de estar sozinho. Ando percebendo, talvez tarde ou cedo demais, que as pessoas se movem por interesses pessoais além até da hipocrisia material, mas, sobretudo, da física. O homem sente a necessidade de estar ao lado de outro ser, não importa por quanto tempo, não importa quantos seres por vez, o fato é que precisa estar “acompanhado”. Parece que os passos têm ritmo de organismo esfomeado que grita, grita como que num apelo por algo, alguém, alguma coisa que possa suprir o vazio da falta.
Às vezes eu me questiono e questiono a essa força que chamam de Deus (estou numa fase tão desgostosa que nem Deus anda suprindo um quinto do vazio que há em mim!) qual seria o motivo de eu vir ao mundo. Por que pra acompanhar alguém eu sei que eu não vim. De vez em quando me pego dando uma de super-humana, objetivando estar acompanhada, mas logo caio em mim e vejo que não adianta, nenhum ser vai suprir a lacuna que me pertence. O problema é que eu sei que eu nasci para a segunda opção: a de sofrer pelos “amores”, para talvez reproduzi-los, quem sabe, à quem conseguiu acreditar nesse tal sentimento (?)...
Talvez você não entenda... Eu sei, eu mesma não entendo, e por não entender estou aqui. Talvez “você” nem exista, porque nos dia de hoje não é impossível dizer que seja impossível ver alguém parando o seu pequeno dia de 24 horas, cheio de afazeres, para ler um desabafo de uma ainda adolescente que conhece pouco da vida e já questiona sobre a própria. Realmente, talvez todas as minhas questões possam ser respondidas um dia, quem sabe? Mas, não sei... Eu sinto... Sinto mesmo... E parece que alguém faz questão de me lembrar, que eu não nasci pra seguir o exemplo social do falso companheirismo. É como se eu... Não sei... Como se eu em breves, brevíssimos mesmo, momentos da minha vida acreditasse em um romance, e me jogasse mesmo, de fato, como ninguém se joga, como quem quer experimentar o gosto do gozo a cada segundo com medo de morrer, mas logo depois caísse por terra, e novamente me postasse aqui: em frente à uma máquina, tentando reproduzir algo que grite por mim, que chame atenção dos outros seres por mim. Por que eu, por eu mesma, não sou nada. São poucos os que me percebem, sabe? Não só pela minha má qualidade genética, mas por ser realmente uma pessoa que não tem o intuito de ser observada por ninguém, parece que meu instinto é só de observar (talvez seja esse um dos motivos para eu achar o ser humano algo pior do que berinjela podre!).
Mas, à parte esse meu desabafo de quem se sente a escória do mundo, aliás, à parte essas últimas linhas (porque o desabafo todo parece ser de quem se sente a escória do mundo, mas as últimas orações são mais impactantes, eu acho, enfim...) o que eu quero dizer de fato é que estou naquele momento qual não vejo razão em nada. Por que as pessoas conseguem levar à frente um laço que elas sabem que é frouxo? Por que e como elas objetivam reproduzir outras vidas, e fazer com que essas novas produzam outros laços sabendo que tudo isso pode ser desamarrado por qualquer esbarrão, qualquer “não” à ilusão de ter alguém ao lado? Eu não consigo, de maneira nenhuma, levar à frente qualquer relação. Se é pra ser laço, tem que ter nó! Tem um jogo sujo por trás das ligações humanas que eu abomino (juro que me deu ânsia de vomito lembrando!), um joguinho medíocre... E depois vêm os seres dotados de “razão” dizerem que são superiores aos animais “irracionais”... Quanta racionalidade, meu Deus, existe no ser humano que usa tantos truques baixos, falsos pra conquistar o outro! Desculpa, não consigo... Não consigo mesmo digerir a idéia de que tenho que fazer jogo pra poder conseguir manter algum relacionamento... E não digo somente relacionamento entre “amantes”, mas entre “amigos” também. Tudo bem, não vou entrar nesse mérito senão vai render mais...
A verdade é que eu olho pras pessoas que andam lá fora e só vejo corpos presos à uma realidade sem nexo! Não me encaixo. Eu jogo fora a idéia do jogo e me entrego mesmo, me entrego à tudo (e gozo horrores, inclusive... enquanto tem gente ainda fazendo jogo). É tão sincero, é tão vivo... Não me arrependo de nada que fiz até aqui, não me arrependo dos meus momentos de falso companheirismo (por parte do outro, porque vindo de mim, foi tudo verdade) quais mandei ver gritando que amava, que estava apaixonada, ameaçando me jogar do nono andar, nossa! Quem lê isso pensa que eu tenho oito anos. Talvez eu tenha parado no tempo mesmo. E tenha ficado com a sinceridade da criança... Que quer verdade em tudo que vê também. O problema mesmo é que a gente nasce em um meio já estabelecido: você veio ao mundo pra encontrar alguém que você vai “amar” e que vai te “acompanhar” aonde você for. Quanta besteira! Repito: quanto jogo sujo, Deus! Por isso eu sempre perco, não gosto de táticas, de truques... Por isso eu toda hora caio no mesmo ponto: as pessoas nunca se acompanham, elas se empatam, é bem diferente (isso quando não tem derrota por trás dos panos)!
Ta ok... Eu sei que estou alongando demais isso, mas é que sinto que eu escrevi, escrevi e não disse nada, nem pra mim, quem dirá à você! Tudo bem... Você não existe... Acho que eu realmente espero que você não exista, que você só pare pra ler meus poemas curtos que estou nos momentos de me entregar sem jogos... Esses poemas, aliás, quais você sempre diz que são intensos, não são nada mais do que o que você quis viver e não pôde, porque entrou no esquema imposto pelo meio e você não teve coragem de ir contra ele. Teve medo. Engraçado! Lembrei de uma frase de um texto que eu encenei com a primeira pessoa qual eu me entreguei de fato e que eu sinto gosto de falar que foi paixão que cresceu a cada milésimo dos dias que durou: “o que tu tem é medo”. Pior que não só o personagem dele, mas ele também tinha. Por isso não nos alongamos mais além alguns meses (que pareceram milênios). Enfim, o que eu quero dizer... Eu, na verdade, não quero dizer nada, só queria escrever, não vou nem reler esse texto senão, ao final, vou ter medo da minha reação. O fato é que eu vou continuar com esses pensamentos por muito tempo... E que a única certeza que eu tenho da vida, repito, é que há sempre o ser humano fraco que nasceu pra viver de um falso amor e há sempre o outro que enfrenta a hipocrisia desses jogos amorosos, mas que acaba por se doer inteiro, pela angustia de ver que o individuo não é nada mais do que algo descartável, não é nada mais do que algo construído sobre o nada!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Eu Te Amo, Amor [de Vinícius de Moraes]

[Poema pego aleatoriamente numa caixa de dizeres amoros na UniRio]

Ah, pudesse o tempo resumir o sofrimento
De uma vida inteira num lamento só de dor
Se dizer pudesse o desespero de partir
E que amar é triste
Que a beleza morre em flor
Dele ao infinito desceria num clamor
Esse eterno grito: Adeus, Adeus, adeus, amor
Eu sei que as minhas lágrimas de amor
São como a estrela que reluz
Pela manhã no céu
Estrelas da manhã no céu
Chorando a própria luz
Oh, insensato amor que me roubaste toda a paz
Se ao menos eu pudesse deslembrar de tanta dor
Mas como esquecer teus versos tristes e fatais
Se eles são o canto do teu sempre trovador
Ah, que eu nada sou mais do que um pobre sonhador
Que jamais te esquece

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Verso Inverso

As frases que proferi até aqui
São enganosas, menino,
Não acredite.
Vejo que enxerga em mim
O que lê nos meus poemas
E fica num dilema sem fim.
Não espere alguém que saiba fazer tudo o que eu digo,
Nem que diga palavras bonitas de quem quer abrigo.
Sou fria, as linhas que escrevo fervem.
Calma, e minhas frases devastadoras.
Sou impostora do meu nome.
Se quer a escritora,
Ame meus versos,
Se quer a mim,
Descubra-me e perceba que sou o inverso.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Pela Última Vez, Rapaz

Rapaz,
Chega novamente com teu jeito que não esqueço mais!
Não faz assim, rapaz.
Minha alma é de quem guarda cada segundo,
Desse amor imundo qual me afasta da paz.
Rapaz, mais uma vez me pego sonhando receber de ti um abrigo
Que nunca tive, que nunca precisei ter, que é só capricho.
Você não pode permanecer em mim, rapaz
No entanto fica, abre mais ferida,
E me faz exalar teu cheiro, teu gozo, teu corpo
Que parece de bicho, que grita cada vez mais.
Rapaz, nessa tua nova volta,
A revolta me toma
E antes que eu novamente entre em coma,
Depois de irmos pra cama,
Quero que saiba:
Essa é a última vez que vou te deixar penetrar em tudo que criei só pra mim,
Repito: é a última vez, rapaz.
E nessa você pode apostar...
Finalmente decretei nosso fim.

sábado, 10 de outubro de 2009

Jogo

Não liga, moço.
Vai passar.
Todo esse desgosto vai embora,
Pra dar lugar ao pior.
Não adianta!
Cada passo dado é um nó
Que te afasta do que é bem.
Eu?
Perdi meus ideais por essa estrada.
Não tenho nada, nem ninguém pra lamentar.
Se luto, é pra encontrar o fim.
O fim desse vazio que me tomou,
Do todo/nada que se infiltrou em meu ser.
Não adianta, moço.
Você também vai perceber:
A batalha contra o cotidiano é injusta.
Quando acordar,
Estará preso na realidade individualista de todos os seres.
A vida se tornou isso:
Você entra no jogo,
Ou entra no jogo.
Não há espaço para o “vir a ser”.
É estereótipo, é máquina, é classe, é divisão, é pouco poder.
Não se iluda, moço.
O jogo já foi moldado,
E você também veio pra perder.

[25/06/2009]

Momento

Primeiro é o olhar profundo e revelador
Depois o sorriso quente e sedutor.
Logo, vêm os pelos que deslizam como tapete.
Depois a boca, como se estivesse num banquete.

As mãos, que de inicio estão frias,
Ao fim se encontram aquecidas.
Os olhos continuam os mesmos,
Só que com mais fogo, mais desejo.

O abraço envolve, abriga.
O corpo sente e sorri.
O momento é único, indescritível.
A sensação é mutua e sempre insubstituível.

A paixão recebe mais calor.
O amor surge sem medo da dor
A certeza do infinito é vaga,
Mas vontade de amar é rara.

[2007]