domingo, 26 de setembro de 2010

Tempos Outros

Elas ficam entaladas na garganta,
À beira da revolução e do contentamento.
É tempo de decisão, eu sei,
Mas os recursos, percebo, são escassos.
Temo mais fracassos
E as palavras têm o dom de atraí-los.
Assim, os mesmos motivos que me induzem à partida,
Fixam-me no recuo.

Contudo, o escuro já não é o bastante pra mim.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Decreto

Hoje eu acordei vomitando palavras mais rudes que a vida
E andando pela avenida, declamei meus versos mais cortantes.
Perdi a voz, sim,
A calma, a alma, a mim.
Cara a cara com a revolta, percebi:
Tudo que está à minha volta não tem ouvido,
Por isso as relações não têm sentido
E quem se rebela, decreta seu fim.

Semelhante

Humano:
É essa palavra que não me diferencia do outro.

Engano também...

Poema Como Todos os Outros

Andando pelas ruas
Vi tudo o que todos vêem
Não me conformei igual a maioria
Reclamei como todos fazem
Sentei, bebi, fumei,
Voltei a andar pelas ruas
Vi tudo o que todos vêem
Não me conformei,
Reclamei,
Sentei,
Bebi,
Fumei,

Morri.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Não

Não.
Dessa vez não vou cuspir meus absurdos verbais,
Nem pedir paz pro que não tem.
Quero apenas repousar-me com a certeza de que amanha ninguém e nada vai ser meu.
[antes a certeza do não, do que as infinitas possibilidades do talvez, talvez]
O que você fez [ou faz] é enxergar o mundo de maneira oposta à minha.
Alias, oposição seria uma das poucas palavras que nos definiria.
E falo isso no passado, porque não há mais presente.
Sua ausência começa a pesar nos meus passos e olhos.

[19/03/2010]

domingo, 20 de junho de 2010

Cama dos (Des)Desejos

Estavam os dois ali, mais uma vez.
Seria costumeira aquela situação se não fosse a inconstância que alimentara os últimos encontros.
Não eram mais nada além de corpos-imãs, que repeliam-se antes de se chocarem de vez e produzirem uma poesia muda de palavras cortantes, de desejos gritantes, de um passado que impedia e ao mesmo tempo pedia a proximidade deles.
Por trás dos olhos dele haviam verdades que o corpo dela despercebia, mas sua alma não. E quanto mais ele penetrava aquelas rimas ritmadas, a boca dela declamava calada a vontade e, sobretudo, a necessidade de inspirá-lo sempre mais.
A cama era o mar de versos eternos, e os dois, peixes que eram, nadavam na poesia que sempre criavam... [Poetas! Seres inconstantes, de alma errante, donos dos desejos complexos e, ao mesmo tempo, profundos.]
Por isso, não saíam dali sem deixar em seus corpos um buraco obscuro, o qual tento clareá-lo pra talvez assim transformar os dois em exemplo àqueles que também não sabem tirar do “mudo” a poesia que quer, que implora, que precisa ser gritada nos ouvidos dos amantes espalhados no mundo.

[É preciso entendê-los de maneira urgente, antes que seja tarde e a poesia se dissolva no vento, no tempo, nas mágoas...]

terça-feira, 1 de junho de 2010

Sem Véu

De repente as coisas ficaram mais claras. Quando a gente percebe que tem um véu encobrindo os nossos olhos e o tira, a claridade machuca. Apesar da dor, esclarece o que antes era obscuro e pro inseguro talvez surja um “adeus”, mesmo que breve. Revendo os textos que escrevi até aqui, admirei-os. O véu também tem suas vantagens. Traz o que prefiro chamar de utópico e faz com que minhas frases se tornem, cada uma, o berro de uma alma que não sei mais se existe de fato, ou se é construção. Escolhi, dessa vez, deixar de lado meus versos rimados e tranferir meu desabafo de modo semelhante à maneira como começei, a partir de hoje, a perceber as relações que tive até então: uma linearidade pacata, uma verdade sem graça, um cotidiano comum, como o de todos. Não sou especial. As relações que construí não são especiais, e é preciso de uma vez por todas que eu aceite isso, crave esse punhal de sinceridade em meu peito e siga convicta de que as verdades dos dias não são tão utópicas. Só assim, acredito, vou conseguir levar a diante quem sou, e não quem as relações que idealizo me transformam. Sou só. E sou de carne e osso como todas as outras pessoas. Os meus sonhos não são vistos como fato, é preciso que eu aceite [repito, para que isso se fixe na minha cabeça]. Talvez eu enlouqueça com minha descoberta. A dor cada vez mais aperta em mim. Jogar fora todas as idealizações é matar a si mesmo, é ver cair, de pedaço em pedaço, todas as histórias que não são nada mais que construções abstratas. Olho-me no espelho e me arrependo. Não sei se esse sentimento se relaciona a verdade que hoje descobri, ou não a ter me permitido idealizar mais, já que a certeza de que os sonhos iam se diluir era fato, mas o proveito que eu poderia ter tirado disso tudo, era inexato.
E aqui estou, como mais uma humana qualquer, como mais uma matéria oca...

domingo, 30 de maio de 2010

Ritual dos Vícios [ou de mim]

Sim,
Dou chance aos vícios.
Percebi isso hoje.
Talvez porque dizem que eles aliviam,
Ou contaminam.
Gosto de ser contaminada por algo que não vem espontaneamente,
Simplesmente porque as minhas escolhas me relatam.
Sempre me vicio em homens pacatos,
Porque também sou.
Meu fumo fede,
Como a mim.
E assim, numa espécie de ritual,
Celebro meu ser
E provoco minha morte.
Sorte: minha vida pacata, celebrada,
Transformou-se em arma
A favor da chance desestimulante de viver.

sábado, 29 de maio de 2010

Tempestade

Não me venha falar que é exagero tudo o que digo ou desejo...
São apenas as minhas verdades.
Acho uma atrocidade ouvir você dizer que não faço sentido
Se o que tem dado rumo aos meus passos,
Foi o que absorvi dos teus atos.
Confesso que talvez a complexidade tenha tomado conta do meu corpo.
Mas não julgue como louco o meu pensamento,
O meu sofrimento,
O meu fervor diante da sua desordenada presença.
Intensa é a forma como eu te quero comigo e também longe.
Não premedito aonde isso tudo vai chegar.
O mar que abrigo começa a ficar em ressaca
E eu não sei o que mais vou ter que destruir
Pra tomar coragem e partir sem suas marcas,
Sem sua normalidade que angustia

E mata.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Espelho

Vê escorrer por mim todos os meus pedaços.
Como uma vela que vai se apagando
Sentindo, ao poucos, a dor que grita arranhando todo o corpo.
Feito louco, observa e não diz nada.
Estou contaminada pelo seu vazio.
O cenário está cada vez mais sombrio
E eu também, como sua alma.
Pede-me calma, mas não ameniza meus conflitos,
Lança-me sorrisos, mas não absorvo nenhum.
O que há de comum em nós,
Que me transformou em espelho do teu ser?
Que me fez jogar fora toda esperança no alvorecer da vida,
E as forças pra dar início a quantas partidas
Fossem necessárias?
Arbitrárias foram as condições que nos trouxeram até aqui:
No limite,
Que só podia ser triste,
Que só podia ter como ponto final
Minha luz apagada,
Minha alma acabada,
Meus sonhos desbotados como as roupas do teu varal.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Poema Mentiroso

E quando vou falar dos teus passos,
Vejo os meus correndo pros seus braços,
Querendo intensificar ainda mais os laços
Que me transformam em escrava da tua alma.
A minha grita a tua,
Implora.
[Enquanto a outra me devora sem dó.]
E cada hora que elas passam unidas,
A mente fica munida
Da ausência do pavor que é pensar na minha vida
Sem a tua.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Linearidade Da Nossa História

Meus versos não gritam mais teu corpo,
Nem meus poros.
Melhor.
Por ter morrido em mim,
Renasci.
Brotou em mim a flor,
Cheia de cor.
Você voltou.
Morri.
A flor ficou
Você cuidou, se apaixonou...
Minha alma está alí.

Aquela Mulher Forte

Quem te criou foi mulher,
Que te mostrou o que é ser mulher,
Mas esqueceu de jogar a força do teu nome
Pro que é sensível.
Ela foi julgar a falta de nível dos seus sonhos
E esgotou todo o tempo que sobrava.
Assim, se tornou mulher brava,
Só que sem maiores esperanças,
Sem as demais alianças,
Sem sensibilidade,
Sem nada.
Consequentemente,
Você ficou vaga.

Vertigem

“Oprimido ou opressor?”
Questionei-me quando perguntaram sobre minha origem.
Vertigem talvez seja o que eu sou, ou sinta.
Maneira suscinta do diabo infiltrar nas cabeças ingenuamente indistintas:
Coloca um véu sobre as ações,
Faz com que o individuo destrua todas as contruções
[metafísicas ou não].
Tirei o que encobria a visão.
Olhei pro chão: sou eu quem o fiz arrastar ali.
Olhei pra cima: é ele quem me faz estagnar aqui.
Estou em momento de transição,
Mas qual seria – se eu pudesse escolher –
A melhor posição
[Levando em consideração a vontade de dormir sem culpa
E poder alimentar-me cada vez mais de compaixão]?

sábado, 15 de maio de 2010

Talvez

Talvez, de tanto amar o homem se esqueça do amor.
Não porque se põe à chorar, mas porque se põe a compor.
Vira música a vida, e entre acordes e batidas,
Vai se diluindo o impulso do querer.
Quando começa a perceber,
Não se sabe mais quem domina:
As cordas com as rimas
Ou os desejos, que são frutos dessa ausência de paz.
Digo isso porque sou homem,
E porque talvez eu tenha amado demais.
Mas, me encontro aqui:
Preso no som dessas notas
Que gritam meu passado (qual não lembro).
E, num lamento,
Espero, atento, as respostas
Das perguntas que talvez não me interessem mais.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Só?

Andando pelas ruas que nunca pensou em passar
Descobriu, talvez, o que queria [ou não]:
O ser humano é só!
Nasce sozinho, morre sozinho e queria entender
Por que tem gente acreditando que
Necessariamente ele vai ter passos acompanhados.
As duas pernas e dois braços, olhos e ouvidos
Devem servir justamente pra isso, concluiu:
Se não conseguir solucionar algum problema com um,
A gente usa o outro.
A partir dessa conclusão, tudo ficou mais simples [ou não]:
Olhou pro mundo e sentiu uma desilusão imensurável.
A verdade que havia criado matou todas as suas expectativas.
Por mais que antes ela se desiludisse com quem depositava seus sonhos,
Ainda existia a esperança de encontrar outro ser melhor.
Onde, agora, guardaria suas ilusões?
Pegou todas elas e jogou no primeiro lixo.
À alguns metros de distância, olhou pra trás
E viu o mendigo feliz, recolhendo-as
Tirou outra conclusão [essa era definitiva]:
“O ser humano é só, mas a vida exige outros”.
Para ratificá-la
Olhou pro seu órgão sexual e percebeu:
Esse, eu tenho um só.

Derradeiro

Vai embora
Como quem chora:
Não se conforma com o que é imposto,
O desgosto entala na garganta.
Sabia que o momento derradeiro viria,
Que a falsa alegria
Iria diluir além de seus sonhos, sua alma.
Pede calma ao corpo que não domina mais,
A paz já não chama atenção.
Sabe que jamais vai chegar aonde quer,
Nunca foi assim!
Se pudesse, colocaria fim à matéria que tem seu nome,
Mas as forças que tinha
Agora é ele quem as consome.

domingo, 2 de maio de 2010

Para Nunca Mais

O silêncio dos seus passos ecoaram em mim.
Nada mais tem voz,
Só o desejo de ainda te ter,
Só a vontade de dizer que te aceito em qualquer condição.
Mas não. Calarei essas ânsias,
Com a vaga esperança de que meus passos
Vão me guiar pra algo concreto,
Que meus novos laços
Vão me fazer sonhar
Com olhos não mais incertos.
Ignoro minhas lágrimas,
O punhal cravado no peito,
A vontade de gritar que de qualquer jeito
Quero estar ao seu lado.
Eu vou partir para aonde não quero
E, sinceramente, não sei o que espero
Além de teu ser entranhado em outra imagem.
Estive de passagem no teu reino
E o que furtei dele
Foi a certeza de que existem mais seres inseguros no mundo,
Além de mim.
Que sejamos, então, felizes assim:
Para nunca mais.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Vozes incertas

Estava no fim do corredor. As portas abriam e fechavam em diferentes ritmos. O breu e a claridade também se alternavam. Vozes ecoavam pela casa. Eram seres já mortos implorando pela paz que pensavam obter no juízo final, ou talvez fossem apenas alucinações que a alimentavam noite e dia.
Chegou ao ponto de não saber mais diferenciar ser vivo, morto, ou imaginário [ou seja lá o que for]. Ela mesma não sabia mais se era matéria ou uma espécie de espírito conturbado que também não sabia para aonde ir.
A verdade é que ouvia aquelas almas gritando, implorando pela paz que ela nunca teve e sentia-se como elas, a diferença é que estava sem voz.
O corredor vazio, as luzes apagando e ascendendo, as vozes cada vez mais altas ecoando pelo espaço e ela lá: no final, com os olhos que gritavam mais do que o coral de espíritos, procurando concretude onde não existia.
"Tenho medo", pensou, mas não temia as vozes e sim ela mesma. Não tinha mais controle de seus sonhos, de seus atos. Passou pelo corredor e sentiu, subtamente, o silêncio surpreso dos mortos [ou seja lá o que forem]. Seus poros exalavam cheiro de incerteza que chegava a assombrar suas próprias alucinações.
Abriu a porta de casa, olhou a rua vazia. As vozes da casa a acompanharam e no trajeto, também se juntaram as das esquinas. Subiu as escadas do prédio que fizera dela o ser mais feliz e infeliz simultaneamente nos últimos tempos. A cada degrau que subia, cravava em si um punhal imaginário [ou não] que lembrava todos os momentos quais não viveu, por não conseguir diferenciar ilusão de realidade. Naquele momento só pensava no adeus que nunca teve coragem de dar àquele homem.
"Tenho medo do que fiz ou do que não fiz até aqui". Chegou no corredor onde o conheceu. Nesse ponto, as vozes caladas estavam ainda mais assustadas: perderiam o único ser que podia alimentar a esperança de trazê-las paz. Chegou ao fim do corredor. Olhou para traz. Pediu [talvez mentalmente] perdão por sua incompetência. Lembrou a imagem do homem que a acompanhou até então. "Acho que gosto de você", disse, com a certeza [a única que tivera até então] de que ele não ouviria.
Sentiu a brisa dos nove andares. Dormiu. Acordou em casa. Gritou por alguém que estava no fim do corredor, mas esse não dizia nada. Só olhava... Sentiu seus poros cheios de incerteza e calou-se no momento em que o ser passou pelo corredor. Era ele, mas ainda não conseguia ouvir sua voz.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Igual

De inicio, procurou refúgio na arte. Com o tempo começou a perceber que todos os artistas quais inspiravam ela, eram tristes, solitários, sombrios, desgastados pelas drogas que aliviavam um pouco a dor. Viu-se no mesmo estado: jogava nos poemas e em sua voz todo o nó entalado na garganta, mas a verdade é que quanto mais tentava expulsá-lo, mais ele se acumulava. Noites em claro declarando guerra aos injustos. Dias sem luzes, sem paz! Só chorava, só sentia uma angústia que parecia que ia explodir.
Encontrava-a sempre no bar tentando anestesiar o nó na garganta, a maldita dor que a surrava por inteira todos os dias. Era um misto de álcool, fumaça, histórias e revolução. Naquele dia, não quis se envolver. Resolveu reparar. Foi então que percebeu que de todos os caminhos, talvez aquele fosse o pior e, ao mesmo tempo, o único no qual encaixava sua maldita habilidade [a de gritar pros que não têm ouvidos]. Lembro-me que todos os que estavam com ela discursavam sobre a luta por igualdade, mas, ironicamente, queriam sempre se mostrar acima uns dos outros. Uma contradição que a infectou! Só que a diferença era: ela sabia que estava contaminada, era nítido em seus olhos, até na forma com que pegava o copo e engolia aos poucos aquele líquido que continuava sendo a única esperança de aliviar o nó. Observou o menino que chegara. Na mesma situação: tentava anestesiar a dor que sentia, a dor de estar vivo. Descalço, sujo, com tinta na mão e um pedaço de gesso. Um artista, como ela. Aproximou-se para mostrar seu grito. Os “companheiros” o viram chegando e, em suas mentes, eu ouvia os comentários: “mais um! Não vou solucionar o problema dele dando moedas, é preciso revolucionar”. Já ela, olhou-o com maior compaixão: “ele sou eu, feito do que sou feita, sobrevivente da dor”, deu o que tinha e sabia onde esse dinheiro ia parar. Os “companheiros” não concordaram: “atitude equivocada! Ele vai pegar a grana pra se drogar!”. De súbito ela pensou: “E o que estamos fazendo aqui?”, mas achou melhor não comentar, seria em vão. Eles eram os melhores, suas mentes talvez não teriam abertura pra pensamento inferior.
Decidiu partir. A segui. Notava-se de longe a confusão dos seus passos sem direção pelas ruas vazias. Ela gritava pelos olhos: “porque cheguei aqui se sabia que era um caminho falho? Será que terei que morrer de tanto berrar um nó que só aumenta, como os outros artistas?”... Ter consciência de qual será seu destino é triste, ainda mais quando não se enxerga outro caminho! O silêncio das avenidas ajudava os seus berros sem voz. Como seria possível uma igualdade, se a realidade onde estava inserida propunha [nas entrelinhas das mentes] uma hierarquia? Constatava olhando pros seus pés quase correndo, depois suas penas, braços, mãos, que o que estava tatuado nela, era tudo o que ela ia contra. Como arrancaria as marcas implantadas nela desde que nasceu? Como lutaria por algo que exterminaria o seu ser e o dos que a acompanhavam?
Viu-se diante do teatro onde iniciou sua vida artística. Pensou: “maldita hora que entrei aqui! Deram-me uma visão mais ampla e, de brinde, ganho um nó cada vez maior!”. Entrou. Relembrou todos os primeiros estímulos que a fizeram questionar a realidade, que a fizeram pensar. “Pensamento maldito”... Foi se acomodando. Adormeceu. Quando acordou olhou o redor, engoliu a saliva seca, que mal passava pela garganta ocupada, pegou a mochila, cumpriu seus deveres diários, e, ao anoitecer, deparou-se mais uma vez no bar, com os mesmos “companheiros”, os mesmos discursos e com o artista pintor na porta, jogado, morto, feliz. Não o perceberam. Fez o sinal da cruz e ascendeu um cigarro... “Logo vem a minha vez: eu triste, solitária, sombria, desgastada pelas drogas que aliviam um pouco a dor de estar onde não quero”.

domingo, 11 de abril de 2010

Lixo de Tolo

Sou tola, como a dor que me constrói.
“Aonde cheguei, meu Deus?”, pergunto-me.
Sinto que a resposta é sempre a mesma:
”No lugar onde quiseste!”.

Parece peste esse interesse pelo que é vazio.
Não há anestésico que tire o sufoco de senti-lo.
Percebo meu corpo sombrio,
Meus pensamentos, meus olhos, meu útero, meu futuro filho [o poema].
Fico no dilema:
“Brigo comigo mesma, ou deixo que o nada percorra minhas veias
E faça do meu sangue veneno para as almas alheias?”.

Tenho medo de mim,
Do que posso aniquilar por estar me destruindo
Do que não posso levantar por ter base fraca
Do nó cada vez maior entalado na garganta
Querendo gritar palavras que só existem nos corações amargurados.

Os retratos que tenho tirado mostram sempre uma só flor,
Desbotada, com as pétalas caindo...
Assim tenho me sentido.
E cada pedaço meu que se vai, é uma punhalada que contrai meu corpo
E, de repente, percebo que o espaço que tenho ocupado é pouco
Diante da imensidão do vazio que abrigo.

Espero, então, a hora de me despetalar por inteira,
Pra que, talvez, eu me torne uma nova guerreira
E saiba lutar contra a besteira de se deixar levar pelo nada.

domingo, 28 de março de 2010

Materialização do Poema

E qual seria a rima mais intensa que o atrito dos nossos corpos?
Que poema declamaria a força imensurável das nossas trocas infinitas?
Meus esforços em nos delatar, enfraquecem-me,
E só quando deparo novamente com o teu ser,
Fortaleço minhas veias, meus sonhos, meus verbos!
Tudo o que vem de você está tatuado no meu corpo,
Está preso na minha garganta,
Entranhado nos meus passos.
Todos os nossos laços têm nó, têm um quê de eterno, de completo, de preso.
Contigo esqueço o mundo,
Escapam-me a rima, o poema, o ritmo, até o pensamento desleal.
Talvez você seja a minha própria poesia:
A mais intensa, a melhor verbalizada até então.
Talvez esse esforço seja cada vez mais em vão,
Já que te descubro todo dia,
Já que a cada segundo te reescrevo no meu corpo, nos meus sonhos, na minha fantasia.
Os olhos, a alma, a troca, você: poesia minha!
Obra de arte que inventei,
Que só é arte por ser meu, por estar aqui.
Decidi:
Deixo de lado os versos cansados da tentativa fracassada de se tornarem matéria,
E permito que tua imagem grite todos os devaneios meus.

sábado, 27 de março de 2010

Verde Alma

Hoje eu vou calar os meus anseios
E dar lugar pro sereno vindo da alma daquele que é meu dono.
É certo que esses olhos verdes são abrigo do meu corpo enlouquecido,
Quando pensa estar em abandono.
E quanto mais eu me perco, quanto mais eu piro,
Mais eu percebo que é dele, que é pra ele tudo que construo,
Que sem ele eu não consigo ser nada além de uma loucura sem graça, de uma loucura no escuro.
O tempo não passa pra nós, porque nossa história já está dada.
E, enquanto ela não roda, o mundo, os sabores, as cores... tudo fica estático.
Quando eu olho nos teus olhos,
Esqueço da paixão passageira que eu insisto em construir enquanto você não está.
Não há ilusão tão perfeita que me faça trocar a realidade concreta do teu corpo,
Dos teus pêlos, abraços, beijos, pernas, do teu olhar.
Amar você não é capricho, não é necessidade, não é orgulho ou vaidade,
Amar você é ser quem sou por completo,
É fazer com que meu ser esteja certo de que está vivo,
De que pode seguir sem medo da solidão, sem o risco do vazio.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Eu vou te contar que você não me conhece...
E eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não me ouve!
A sedução me escraviza à você...
Ao fim de tudo você permanece comigo, mas preso ao que eu criei e não a mim.
E quanto mais falo sobre a verdade inteira, um abismo maior nos separa.
Você não tem um nome, eu tenho.
Você é um rosto na multidão e eu sou o centro das atenções.
Mas a mentira da aparência do que eu sou é a mentira da aparência do que você é.
Por que eu não sou o meu nome, e você não é ninguém...
O jogo perigoso que eu pratico aqui, ele busca chegar ao limite possível da aproximação
Através da aceitação da distância e do reconhecimento dela.
Entre eu e você existe a notícia que nos separa.
Eu quero que você me veja nua... Eu me dispo da notícia!
E a minha nudez, parada, te denuncia e te espelha.
Eu me relato, tu me delatas...
Eu nos acuso e confesso por nós.
Assim, me livro das palavras,
Com as quais você me veste.

Fauzi Arap

Real [ou/é] Ilusão

Tenho gritado em vão.
Minha voz só quer ser matéria quando não tem teus ouvidos como foco.
O que nos liga é ilusão.
Mero capricho de quem, feito bicho, quer fazer amor a qualquer momento.
Invento motivos que me façam colocar os pés no chão,
Mas eles voam, voam e eu perco o controle das minhas verdades.
Alimento-me do que não existe
E ando com fome,
Fome de mãos, pêlos e olhos que sejam reais, que sejam inteiros.
Ao meu lado estão aqueles que escutam minha voz
Clamando por paz, clamando por algo que não lembre a nós.
Mas, eu os toco procurando você,
Eu os experimento querendo sentir o seu sabor
E continuo só,
Continuo tentando – cada vez mais sem esperança, cada vez mais em vão – transformar-te em antigo sonho,
Em um tipo raro de real ilusão.

Único

Veio lembrar-me o que pensei ter apagado da memória, da minha história.
Mas a verdade é que muito do que sou, vem dele.
Os quilômetros de distância não me impedem de sentir o mesmo sabor de quando estivemos juntos,
De quando descobrimos juntos a essência adocicada do amor puro, inocente.
É no meu inconsciente que ele se abriga e quando eu deparo comigo, no meio do meu devaneio,
Vem-me à flor da pele seu cheiro, seu abraço, seus olhos, sua voz, seus pêlos que gritavam pelos meus.
O tempo não corre pra nós. Não preciso e nem tenho pressa.
Já me disseram que a vida prega peças, mas na nossa história,
Quem prega nosso passado, presente e futuro é a alma de ambos, que é única, que é completa por si só.
Hoje me lembrei de nós, e agucei a certeza escondida no meu baú secreto:
O que vivemos é pouco em relação ao que vamos viver, independente dos longos quilômetros que nos distancia.
[quais acredito cada vez mais que, ao contrário do que se pensa, aproximam-nos].

Sou tua. Sempre fui.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Livre!

E agora eu vou embora.
Tarde demais pra fazer o que pensou pra depois.
Por isso que, apesar das dores, eu deixo o orgulho de lado e vivo.
Vivo tudo o que posso, devoro todas as possibilidades até que se esgotem.
E me sinto livre!
Livre dessas regras contraditórias do cotidiano,
Livre do engano, das máscaras, do que não é meu.
Perdeu o que havia de entregue em mim, de inteiro,
O poético da minha essência.
O que fica aqui é só a ausência da minha alma.
Uma matéria fria, rígida, sem graça,
Um corpo que não grita mais pelo seu suor,
Que não tem dó quando provoca dores,
Que não sente amor, paixão, nada.
Que é carne e só.
O meu imaterial agora vagueia por outros lados,
Distantes do seu corpo desalmado.
Continuo livre, aberta pra tudo o que também é
E com a absoluta certeza de que não preciso de ninguém mais
- além da minha essência -
Pra me sentir totalmente independente e completa.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

"R"evolucionário "A"migo

Teu cheiro continua o mesmo.
O sorriso, os lábios que declamam mil poesias por segundo sem perceber,
O jeito malandro de andar, de olhar o mundo.
Tudo teu continua como sempre esteve.
O que muda é a forma como a gente se atreve a nos encarar,
A nos amar de novo - ou mais do que antes.
Eu te tenho como um talismã,
Como um objeto raríssimo, nunca visto, nunca apreciado,
Mas que eu sei, bem certo, o valor que tem.
Você é, de fato, a tal peça fundamental,
Um pedaço de mim, uma parte que me faz sentir menos vazia [ou mais completa].
Eu não sei se é ironia, ou desejo de algum astro, Deus... O que for,
Mas quando eu olho pra tudo que a gente passou,
E pra tudo que nos tornamos hoje: cada um tatuado no outro,
Aqui desperta a absoluta certeza de que a loucura que nasceu em mim,
Quando te vi declamar sua revolta sem fim pelas injustiças do mundo,
Não foi à toa.
Aqui desperta a maior descoberta que tive na vida:
A paixão.
Sou completamente apaixonada pela nossa historia,
Pelo tempo que nos tornou melhores,
Por você, que não é nada mais do que a pessoa que eu quero por toda a minha vida.
[Com a certeza de que assim, eu poderei olhar melhor pro mundo.]

Verso Inverso [repetido]

As frases que proferi até aqui
São enganosas, menino,
Não acredite.
Vejo que enxerga em mim
O que lê nos meus poemas
E fica num dilema sem fim.
Não espere alguém que saiba fazer tudo o que eu digo,
Nem que diga palavras bonitas de quem quer abrigo.
Sou fria, as linhas que escrevo fervem.
Calma, e minhas frases devastadoras.
Sou impostora do meu nome.
Se quer a escritora,
Ame meus versos,
Se quer a mim,
Descubra-me e perceba que sou o inverso.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Dicotômicos (?)

Poros que berram teu nome...
Exalo cheiro que vem do teu suor!
Pior do que sentir-me entregue aos nossos laços
É lembrar que eu não esperava o enlace desses passos,
Do nosso corpo.
Louco, meu pensamento se julga.
Elabora mais de uma fuga contra a clareza da necessidade dos teus mistérios.
Eu crio impérios nos meus desejos quando sinto tua presença.
Intensa é a vontade de te devorar a cada segundo do tempo em que me perco
Tentando decifrar o incerto dos teus olhos.
Já cavei inúmeros poços banhados a lágrimas de poesia
Em busca da magia que me faz te ter como tatuagem.
Selvagem o jeito como te desejo, te quero, te receio,
Me desoriento e me entrego.
Não nego que é você quem espero nos meus devaneios!
Deixo o orgulho de lado [já que meu corpo entrega todas as minhas vontades]
E confirmo:
É da incerteza dos teus passos que quero me alimentar
Até desvendar o que vai te tirar do obscuro, do inseguro,
E fazer com que seus poros também exalem tudo que vem do meu ser.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sede

Eu quero a última gota de álcool
Que precede o momento do choque das nossas almas.
Ver teu corpo esculpido diante dos olhos,
Saboreando o amargo do que me tira a lucidez.
Depois, cair em teus braços e traços,
Como se fossem as notas
Da mais perfeita melodia dos atritos.
Correr o perigo de te ter e depois querer bem mais.
Risco de morrer, por não ter mais paz
Após sentir o calor do teu gozo...
Essa embriaguez que me faz provar cada pedaço teu,
Transforma-se em marca eterna.
Mas, quando a gota se encerra
Por entre as veias que gritam teu nome,
Fica em mim a sede de querer novamente provar
A amargura do teu ser diante do meu.
Marcando ainda mais o corpo que só quer ser teu,
Implorando que o breve instante dure
O mesmo tempo que durará minha vida [a tua].

[23/05/09]

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Imaterial

Aquele momento longo e complicado em que tudo é maior que a gente. Busca pelo motivo que faz alguém querer estar ao nosso lado, alguém precisar de uma palavra, do nosso corpo presente. Sinto-me ausente de tudo que é concreto e viva demais no que não se vê. Nunca sei como pertencer a algo, ou alguém. Nunca tive oportunidade de ser alguém de fato pra qualquer outro que não fossem os meus versos, sempre confusos e sinceros demais. Dos olhos que vejo poucos refletem a vaga imagem que tenho de mim. E esse momento segue assim desde que me vi diante do abismo do outro, diante da possibilidade de me achar parte de um corpo que não fosse meu, um corpo por completo. Sei que guardo um repleto de desejos e sonhos que não podem se abrigar somente nos meus versos. E a agonia de me ver dissolver pelo que não é concreto, cada vez mais, destrói um pouco da paz que tento preservar em mim, destrói um pouco do pouco que acredito servir. Seguir e cada vez mais seguir, eu sempre tento, mas andam me faltando forças pra que esse momento finalmente termine e eu consiga, plenamente, me sentir em matéria, me amar como gente.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

?

O poético está em ti.
No teu corpo, no que fazemos com os nossos!
Os destroços de um passado ruim, eu ignorei
E pouco sei sobre o presente.
Tenho medo, confesso.
Medo que essa esperança novamente me alimente
De sonhos nunca desejados, inexplorados, irreais.
Quero paz dos meus devaneios [talvez],
Dos adoráveis rodeios que fizemos até aqui.
Preciso ir, mas não sei para aonde, nem por que.
Eu rodo, tonteio junto com os meus pensamentos,
E não sei mais o que invento pra te dizer que não sei.
Não sei o que quero, o que me leva até você.
Não sei o que espero, por que estou cada vez mais com sede de te ter.