quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ECO

Querido, tenho descoberto tantas coisas... Olho pra mim e sei que vou além da imagem projetada no espelho. Esse corpo único, na verdade, é plural. Cada movimento, querido, cada mínima construção do meu organismo: os estímulos, os sentidos, as verdades de quem sou são infinitas... Não cabem no mundo!

domingo, 22 de novembro de 2009

Pretensão

A minha pretensão não é apenas saborear-me com o amargo que vem da tua saliva.
É supérfluo, pra mim, este gosto,
Quando o desgosto está estampado em teus olhos.
Eu quero decifrar as marcas mudas da tua face,
Quero que o encaixe dos nossos corpos,
Sejam ministrados pelas nossas almas.
De nada me vale essa carne que a tudo quer e deseja,
Se o que minha paixão almeja é o que tens de ser extra-humano.
Há engano em teu olhar.
Tens pele áspera, mãos desordenadas, palavras frias.
O que te faz chamar atenção é o que possuis de triste e vazio.
Teu corpo sombrio
(Abrigo dos amantes breves)
Vagueia pelas ruas sem brilho,
Perdido na realidade falida dos corpos desalmados,
Entregues ao nada.
Quero que saiba: o prazer não vem da carne,
E o sentido da vida não está nos gemidos da noite.
Tenho pra lhe oferecer,
(Além do sabor adocicado da minha boca,
E da maciez dos meus pêlos e frases)
A vontade de completar o teu ser,
Sabendo quem és de fato.
Quero jogar no lixo tua máscara
E essa carcaça de quem não soube viver todos esses anos.
E, enfim, provar-te
Que o engano é conseqüência de quem optou pelo que é fácil.
Tu és frágil
E eu quero ser quem te protege, para sempre.

domingo, 15 de novembro de 2009

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Falas banais,
Bocas que vomitam hipocrisia.
Mentes acompanhadas pela ignorância de si mesmas...
Odiosas!
Esqueceram [ou não querem ver] que as boas prosas ainda existem.
Os poetas continuam tristes vagando pelas ruas sem saber que permanecerão na história!
Bocas, estejam mudas!
Artistas de fato não dizem que sabem,
Mas são gênios.
Vós achais que dominais a razão,
Contudo, se apagarão no milênio.
Falas malditas,
Os falecidos artistas estão remexendo em suas covas,
Inventando prosas mais dramáticas que as antigas!
Saibam: a arte não vai morrer enquanto não depender de vós.
Eu, a sós comigo e com o palco
Rezo para que o espírito artístico continue a brilhar,
Mesmo tendo que sustentar
Tanta hipocrisia, tanto ego alto!

31/08/2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Para o Outro Que Sou

Querido, tenho tantas coisas pra contar. Tenho aprendido tanto com a vida que escolhi, e o melhor: não me arrependo. Estou feliz, sinto-me no meu lugar, sinto que posso ir mais longe, estou bem melhor comparado a quando te vi pela primeira vez. Se você soubesse como estou conhecendo um pouco sobre quem sou, descobrindo em mim caminhos que eu nunca pensei existirem, possibilidades impossíveis na nossa época. Não, querido, não sou outra. Continuo sendo a mesma devota do teu ser, admiradora da lembrança dos teus olhos e lábios, das palavras que saiam da tua boca que ainda estão vivas no meu ouvido. E pensar que foi você quem abriu o caminho para essa minha grande descoberta, você quem teve a coragem de corrigir meus olhos cegos de mimos e privados da verdadeira realidade do mundo... Todo dia quando eu me deparo gritando por justiça, lutando por causas infinitas, eu lembro do teu ser. De como você me mostrou que, abrindo realmente os olhos, a gente percebe uma infinidade de erros, de corrupções, de desigualdades que não devem ser (apesar de serem, por muitos) tidas como “normais” e que é preciso lutar por elas. Eu estou descobrindo aos poucos o mundo e por conseqüência, como já disse, a mim também. E, apesar de saber que o universo no qual vivemos não é o paraíso, digo que estou feliz, feliz porque agora tenho olhos grandes, críticos, questionadores, revolucionários. Eu sou embrião de ti, gênio, a semente dos teus ideais, da tua historia, da tua luta. Quando eu berro, ouço tua voz e não a minha clamar. Quando gesticulo sinto teus braços nos meus, quando choro, parece que engulo o gosto da tua lágrima. Sim, nessas lutas que enfrentei, encontrei companheiros magníficos, tão inteligentes quanto você, inclusive tive me relacionando com eles, libertários que são, levam a vida de um ponto de vista imensurável (mas, confesso, nenhum libertário ou libertária tem o teu sabor). Sim, experimentei coisas novas, pessoas novas, abri meu leque, querido, precisa ver. Só que a verdade, verdade mesmo, é que fiz isso tudo por você, para você. Esperando o momento em que eu iria rever a nossa imagem refletida no mar, ou na vidraça quebrada do armazém da favela,no espelho do camarim no teatro, no vidro do carro do policial preconceituoso, ou então no ultimo banco do ônibus (lembro como se fosse agora, meu rosto exalando um prazer indiscreto e tuas mãos elevando-o ainda mais)... Quero te mostrar tudo que tenho construído, tudo o que transformei tendo você como a base, como a raiz, a superfície, o ponto de partida, a lente do mundo. Digo, querido, que agora estou pronta pra te dar as mãos e lutar contigo pelo universo e, acima de tudo, por nós mesmos. Nos últimos dias, a cada minuto, tenho pensado em como podemos nos juntar, o que podemos transformar, como vamos ser grandiosos nos unindo novamente, estando um preparado para o outro. Eu sinto, querido, (e quando eu sinto, você sabe, não é em vão), alias, sempre senti, só que agora com mais força, que somos eternos um no outro. Que estamos aqui, na Terra, pelo outro, e que precisamos, devemos cada vez mais amarrar nossos laços para que possamos transformar em algo menos intolerável o mundo, e também para que sejamos um só, mas um corpo que seja luta, alma, paixão e sede maior do que já ouvimos falar em toda história. Aguardo-te impacientemente, querido, de portas, mente e ideologias livres para seu trânsito. Volte logo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Cria Dor [Secreto III]

E lá vem mais uma pancada.
A menina está acostumada, pode mandar mais!
Não há paz nos olhos dela desde que se reconhece.
Esquece que existe um mundo lá fora,
Porque o dela já é grande demais, apesar de devastado.
Tenta sempre, sempre, reerguer seus campos, castelos, limpar os rios...
E quando chega à quase perfeição,
Lá vem mais uma vez a pancada feito tufão destruir tudo.
Estudo seu comportamento, pois suspeito haver um elemento fundamental
Que faça a moça, coitada, ainda acreditar que levará o seu mundo à uma configuração superior.
Crê tanto, mas tanto, que eu fico admirado...
Já viu o final inúmeras vezes e continua ali: tentando mais.
Por que menina, acreditar no que não pode vir?
Como é possível a moça não abrir o olhar e constatar que a vida já está esquematizada,
Que ela nasceu pra ser nada, só aceitar o que lhe foi imposto?
É mais desgosto que alimenta se tenta reerguer o que não é feito pra estar em pé!
É triste e ao mesmo tempo encantador
Ver uma menina moça com esse ar de esperança,
Parecendo criança brincando de criar...
E a menina cria, cria cada vez mais dor.