domingo, 20 de junho de 2010

Cama dos (Des)Desejos

Estavam os dois ali, mais uma vez.
Seria costumeira aquela situação se não fosse a inconstância que alimentara os últimos encontros.
Não eram mais nada além de corpos-imãs, que repeliam-se antes de se chocarem de vez e produzirem uma poesia muda de palavras cortantes, de desejos gritantes, de um passado que impedia e ao mesmo tempo pedia a proximidade deles.
Por trás dos olhos dele haviam verdades que o corpo dela despercebia, mas sua alma não. E quanto mais ele penetrava aquelas rimas ritmadas, a boca dela declamava calada a vontade e, sobretudo, a necessidade de inspirá-lo sempre mais.
A cama era o mar de versos eternos, e os dois, peixes que eram, nadavam na poesia que sempre criavam... [Poetas! Seres inconstantes, de alma errante, donos dos desejos complexos e, ao mesmo tempo, profundos.]
Por isso, não saíam dali sem deixar em seus corpos um buraco obscuro, o qual tento clareá-lo pra talvez assim transformar os dois em exemplo àqueles que também não sabem tirar do “mudo” a poesia que quer, que implora, que precisa ser gritada nos ouvidos dos amantes espalhados no mundo.

[É preciso entendê-los de maneira urgente, antes que seja tarde e a poesia se dissolva no vento, no tempo, nas mágoas...]

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