domingo, 14 de junho de 2009

Vou sim Senhor

No dia 29 de maio de 2009, a escola técnica de interpretação teatral SATED foi retirada do Retiro dos Artistas. Pelos anos que vivi lá, por tudo que aprendi, escrevi esse texto e, por mais que as palavras sejam a única forma concreta de traduzir o que sentimos, eu não consegui colocar nelas tudo o que sinto. Infelizmente nem todos são artistas [lembrando que ser artista não é só se formar como algum ícone da arte, é simplesmente apoiá-la e admirá-la] e foi preciso dar "adeus" a minha raiz e de muitas outras pessoas!


(...)


Ele diz: “vai”.
Vou sim.
Mas, meus passos ficam.
Minhas histórias continuam aqui.
“Vai”.
Vou sim,
Mas deixo de presente essa minha sede, esse meu amor por tudo que vivi.
Vou, vou com o coração aqui.
Com o principio das minhas ideologias,
Com minhas raízes mais findas que ninguém pode mandar ir.
Sabe o que vai acontecer, Senhor Destruir?
Todos irão como queres,
Mas até em ti ficará essa essência,
Esse gosto pelo que se viveu.
Restará em ti o vazio,
A falta de troca,
O estágio sombrio da vida.
Não percebes, Senhor Capital,
Mas o valor que dás ao banal é tão pequeno quanto teus pensamentos.
E logo se arrependerá e logo cairá no esquecimento!
A gente vai.
Estamos indo...
Abrindo essa porta que nós construímos,
Levando essa alegria que nós trouxemos,
Carregando no peito o desejo de fazer mais,
E deixando pra ti - com muito gosto - a infelicidade de não mais poder caminhar.
Continue aqui:
Cuide das árvores,
Das folhas que a gente catou,
Dos frutos que a gente colheu,
Das histórias que a gente viveu,
Dos mitos que a gente aprendeu,
Dos senhores que demos as mãos
E os fizemos lembrar seu valor.
Senhor Desamor, falta em ti o que nós temos de sobra,
Que é a arte de saber viver,
De saber construir,
De saber partir e mesmo assim ficar.
A gente deixa o lugar que a gente ama
Marcado pelos nossos corpos.
E eu te garanto, Senhor dos Destroços,
Que o próximos Senhores que trouxeres
Vão ouvir nossa voz ausente,
Vou se encantar pelos nossos mistérios
Vão nos querer ver,
Não conseguirão e partirão...
Deixando aqui também a enorme vontade de assistir quem construiu o que tu quiseste - mas não conseguiste - destruir.
Obrigada, Senhor Ignorância, pelo nada que és.
E por nos dar o espaço para mostrarmos que somos tudo
Aqui, em nosso lugar...
E aí, dentro da oca e infeliz realidade do teu mundo.
Adeus.

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