sábado, 31 de outubro de 2009

Secreto II

Ela vai morrer de taquicardia. Faz tempo que repara nos indícios. Sente o pulso pelas veias correndo intensamente, aclamando por amor. Nesses momentos, pensa de maneira urgente em tomar, talvez, a última atitude em vida. Acha romântico morrer do órgão involuntário, não só pelo significado que tem, mas pela força. Diz até que não come coração de galinha, porque acha anti-poético. Patético o estado em que se encontra.
Ela vê o corpo imã de seu corpo, entrega tudo o que tem a ele e aí está a taquicardia intensa. Essa companheira a acompanha quando está mais propensa à paixão [sempre, diga-se de passagem,]. Até a miragem do ser que a chama atenção provoca a palpitação, a pupila dilata, os poros abrem, o sexo faz contração em milésimos de segundo, a conturbação de barulhos do mundo se cala para ouvir o bombeamento sanguíneo imediato, para sentir ou desejar o caminho que corre pelo corpo e provoca ainda mais reações, mais intenções, mais desejos, apelos, gritos, mais a certeza de que a morte está próxima. Diz que é bom saber de qual forma vai deixar o mundo. Julga a morte como resultado da vida e pra ela não haveria outra saída senão falecer do que a move a cada instante de cada dia que experimenta o gosto intenso das paixões que alimenta, sobretudo quando não correspondida.

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