domingo, 25 de outubro de 2009

Secreto I

Anda mudada. Olhos sem brilho de esperança, de lembrança, de paixão. Diz não ao que pede o coração e se põe a rodar como peça de máquina sem alma, sem calma, sem par. Conhece tantos, mas nenhum acompanha. Está só, como todos. Não faz mais campanha pra ver qualquer homem se entregar. Descobriu que amar é mais uma construção, talvez assim como Deus, talvez como a imagem que transfere pro mundo. Sente o pulmão cada vez mais imundo não só de fumaça, mas da desgraça que absorve todos os dias. Olha pros cantos e não vê verdade em mais nada. Repito: está mudada. Abriu os olhos, sujou a alma, tapou a vontade de se entregar pra tudo. Estranho ter tanto pra dar e só poder dividir com ela mesma. Farejar as impurezas e se calar. Constatar que ninguém quer se declarar por inteiro, porque tem medo, porque tem jogo pra ganhar. Impaciente, quer gritar, mas não se deixa. Está sem voz. Está a sós com o mundo... Estranho como tudo mudou de repente e como a realidade não tem nenhuma ligação com os sonhos que, antes de se abrir, ela, iludida, tinha em mente. Como máquina ela gira, gira, gira e se entontece... É, menina, encontraste o sentido da vida!

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